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Prólogo: A companhia do perigo

 

Era uma construção feia, antiga e mal cuidada. Um exemplo do que a má arquitetura de séculos passados era capaz de fazer. Estava abandonada há muitos anos. Os portões enferrujados estavam no chão e a vegetação cobria boa parte do muro. Entre as pedras desgastadas ainda era possível enxergar uma placa que identificava o local.

— O que é um “cas-te-le-te”? — questionou o homem forte parado em frente à construção.

Sua aparência era bronca, mas gentil. Sua espada era enorme, quase do seu tamanho. Ele apertava os olhos para identificar as letras. Não que elas estivessem ilegíveis, mas porque aquele bárbaro truculento havia acabado de aprender a ler.

—“Castelete” é um castelo pequeno. — respondeu um de seus companheiros, com jeito de professor. — Como esse em que nós vamos entrar agora.

O companheiro era um homem maduro, por volta dos seus quarenta anos. Vestia uma túnica vermelha com detalhes em dourado.

— Ahhh! — fez o bárbaro, sorrindo. — Pensei que um castelo pequeno fosse um “castelinho”. Obrigado, seu padre!

O homem não era exatamente um padre, mas um sacerdote. Um clérigo da Comunhão dos Divinos e servia diretamente à Ypondera, a Rainha dos Elementos. Sorrindo para seu amigo abrutalhado, começou a murmurar preces para seu medalhão em forma de chama; o símbolo da Prelazia do Fogo do qual ele era membro.

— Será que podem falar mais baixo? — disse uma voz feminina. — O barulho pode trazer presenças hostis.

A mulher entendia muito bem de furtividade. Era altiva e vestia-se completamente de negro, o que facilitava quanto tinha que se esconder nas sombras, algo que ela fazia com muita frequência. Era uma ladra.

— Prefiro encarar o perigo de frente, como sempre fiz a vida toda. — disse um homem garboso, vestindo uma armadura finamente trabalhada e segurando nas mãos uma espada e um escudo com o símbolo de um galo de crista grande a avermelhada. — Eu sou um cavaleiro livre e não temo inimigo algum!

— Pois você devia temer. — comentou uma matrona serena que estava logo atrás do resto do bando. Ela apoiava-se num longo cajado e vestia um vestido longo e escuro. — Há coisas que não podem ser derrotadas apenas com o metal de uma espada ordinária.

— Não diga bobagens, bruxa! — disse o cavaleiro. Não era uma ofensa. A mulher era realmente uma bruxa. – Não há nada que minha espada não possa cortar.

— Vamos ficar quietos, por favor?! — pediu a ladra, sondando o ambiente à procura de possíveis armadilhas no gramado abandonado do castelete. — Não é hora para discussão!

— A jovem está correta. — disse o sacerdote, verificando sua pequena bolsa repleta de vidrinhos coloridos, contendo poções e elixires diversos para preservarem a vida dele e de seu grupo. — Temos que nos concentrar.

Eles estavam em missão.

Eles eram aventureiros.

Eles eram a Companhia do Perigo. Um dos grupos mais ativos e poderosos do reino.

Um bárbaro, uma bruxa, um sacerdote, um cavaleiro e uma ladra. Excelente combinação. Naquele quinteto havia força bruta e inteligência, precaução e entusiasmo, magias e milagres, ação e diálogo, beleza encantadora e feiura intimidadora. Um grupo completo. E por isso mesmo um dos mais bem-sucedidos do reino de Graso.

— Uau, uau! Enfim, camaradas! — disse o bárbaro, olhando para cima e admirando a construção com um brilho infantil no olhar. — Nós vamos arrebentar com o Castelete Garzard!

Havia um tabu ruim sobre aquele local. Histórias terríveis envolvendo loucura, morte e destruição. No passado, a família Garzard foi uma das mais abastadas do reino. Eram respeitados e admirados. Mas tudo mudou quando os membros do clã foram morrendo um a um sob circunstancias estranhas e trágicas. Por fim, o patriarca da família fechou-se em sua residência e nunca mais saiu. Desde então qualquer um que passasse por perto da área sentia um calafrio e um terror intenso. Havia uma estranha maldição ali.

E esta maldição era o que a Companhia do Perigo iria destruir. O último grande objetivo que o bando tinha antes de encerrarem suas carreiras em Graso. Embora fossem muito conhecidos naquelas terras, desejavam ir para o Grande Continente. Se conseguissem ser tão bem-sucedidos lá fora, alcançariam a fama mundial e seus nomes seriam eternamente cantados pelos bardos do planeta.

O jardim era tomado pelo mato alto e árvores retorcidas. Em meio à vegetação, erguia-se o castelete, coroado com uma única torre, emoldurada por três luas: uma azul, uma púrpura e outra branca. Os vigias noturnos que cuidavam do mundo de Vaalamuria e suas centenas de reinos. E naquela noite pareciam estar mais atentos sobre Graso e ao que ia acontecer àqueles aventureiros.

Com um chute ruidoso, o bárbaro colocou a porta de entrada do castelete abaixo. O quinteto entrou em uma enorme sala escura, com móveis apodrecidos e ratos e morcegos agitados com a intrusão. A bruxa murmurou algumas palavras e fez uma esfera de luz surgir em seu cajado. O local se iluminou. Movendo espadas, adagas, maça e magia, os animais sinantrópicos foram todos mortos em instantes. O bárbaro era oq eu parecia mais feliz esmagando os ratos com seus pés enormes.

— Pare com isso! — exclamou o cavaleiro, irritado. — Não é cavalheiro manchar seus colegas com esse sangue asqueroso!

— Não sou cavalheiro, bundão! E posso fazer o que eu…!

— Aaai, cuidado! — reclamou a ladra quando a lâmina do bárbaro passou perto dela. — Quer me matar?!

— Parem de discutir! — pediu a bruxa, batendo o cajado no chão e fazendo um barulho alto. — Temos que livrar este lugar do mal que ele encerra.

— Sinto uma presença poderosa aqui. — disse o sacerdote, apreensivo e beijando seu medalhão sagrado. — Será o espírito do Comendador Garzard?

— Hein?! — exclamou o bárbaro. — Tem fantasma aqui?!

— O que você esperava de um local como este? — questionou a ladra.

— Sei lá… mortos vivos! Esqueletos, zumbis… estas coisas!

— Por favor, rapaz, cale-se! – pediu a bruxa, tocando na testa com a ponta do cajado. – Pois estou justamente tentando saber quantos inimigos há neste local.

— Ora, mas é fácil saber! — o bárbaro sugou uma grande quantidade de ar e gritou: - TEM FANTASMA AQUI?!?!

O berro do homem ecoou por todo o castelete de forma tão brutal que até a estrutura das paredes parecia ter sido abalada. Quando todos os outros membros do grupo estavam prontos para repreender o colega, puderam ouvir:

— NÃO.

A voz gutural reverberou de volta até o quinteto de forma muito mais forte.

— Tem fantasma. — disse a ladra, pegando sua adaga mágica especial com uma pontada de medo, mas sem se conter diante de uma ironia. — E pelo visto um fantasma burro!

— Oba, então lutaremos de igual para igual! — comemorou o bárbaro, dando um tapinha nas costas do cavaleiro. — Vamos ver quem mata mais espíritos, hein? Hein? Vamos apostar?

— Sou um cavaleiro e não faço do meu ofício um jogo!

— Não dá para “matar” um espírito. — lembrou a bruxa, armando-se dos seus sortilégios.

— Mas dá para oferecer a eles o descanso eterno, o que é quase a mesma coisa! — disse o sacerdote que depois declamou: — Ypondera, dama dos elementos, dê-me forças! Dê sua força a todos nós!

E assim começou a maior aventura da Companhia do Perigo.

… e também a última.

Prólogo: A Companhia do Perigo.  

Era uma construção feia, antiga e mal cuidada. Um exemplo do que a má arquitetura de séculos passados era capaz de fazer. Estava abandonada há muitos anos. Os portões enferrujados estavam no chão e a vegetação cobria boa parte do muro. Entre as pedras desgastadas ainda era possível enxergar uma placa que identificava o local.

— O que é um “cas-te-le-te”? — questionou o homem forte parado em frente à construção.

Sua aparência era bronca, mas gentil. Sua espada era enorme, quase do seu tamanho. Ele apertava os olhos para identificar as letras. Não que elas estivessem ilegíveis, mas porque aquele bárbaro truculento havia acabado de aprender a ler.

—“Castelete” é um castelo pequeno. — respondeu um de seus companheiros, com jeito de professor. — Como esse em que nós vamos entrar agora.

O companheiro era um homem maduro, por volta dos seus quarenta anos. Vestia uma túnica vermelha com detalhes em dourado.

— Ahhh! — fez o bárbaro, sorrindo. — Pensei que um castelo pequeno fosse um “castelinho”. Obrigado, seu padre!

O homem não era exatamente um padre, mas um sacerdote. Um clérigo da Comunhão dos Divinos e servia diretamente à Ypondera, a Rainha dos Elementos. Sorrindo para seu amigo abrutalhado, começou a murmurar preces para seu medalhão em forma de chama; o símbolo da Prelazia do Fogo do qual ele era membro.

— Será que podem falar mais baixo? — disse uma voz feminina. — O barulho pode trazer presenças hostis.

A mulher entendia muito bem de furtividade. Era altiva e vestia-se completamente de negro, o que facilitava quanto tinha que se esconder nas sombras, algo que ela fazia com muita frequência. Era uma ladra.

— Prefiro encarar o perigo de frente, como sempre fiz a vida toda. — disse um homem garboso, vestindo uma armadura finamente trabalhada e segurando nas mãos uma espada e um escudo com o símbolo de um galo de crista grande a avermelhada. — Eu sou um cavaleiro livre e não temo inimigo algum!

— Pois você devia temer. — comentou uma matrona serena que estava logo atrás do resto do bando. Ela apoiava-se num longo cajado e vestia um vestido longo e escuro. — Há coisas que não podem ser derrotadas apenas com o metal de uma espada ordinária.

— Não diga bobagens, bruxa! — disse o cavaleiro. Não era uma ofensa. A mulher era realmente uma bruxa. – Não há nada que minha espada não possa cortar.

— Vamos ficar quietos, por favor?! — pediu a ladra, sondando o ambiente à procura de possíveis armadilhas no gramado abandonado do castelete. — Não é hora para discussão!

— A jovem está correta. — disse o sacerdote, verificando sua pequena bolsa repleta de vidrinhos coloridos, contendo poções e elixires diversos para preservarem a vida dele e de seu grupo. — Temos que nos concentrar.

Eles estavam em missão.

Eles eram aventureiros.

Eles eram a Companhia do Perigo. Um dos grupos mais ativos e poderosos do reino.

Um bárbaro, uma bruxa, um sacerdote, um cavaleiro e uma ladra. Excelente combinação. Naquele quinteto havia força bruta e inteligência, precaução e entusiasmo, magias e milagres, ação e diálogo, beleza encantadora e feiura intimidadora. Um grupo completo. E por isso mesmo um dos mais bem-sucedidos do reino de Graso.

— Uau, uau! Enfim, camaradas! — disse o bárbaro, olhando para cima e admirando a construção com um brilho infantil no olhar. — Nós vamos arrebentar com o Castelete Garzard!

Havia um tabu ruim sobre aquele local. Histórias terríveis envolvendo loucura, morte e destruição. No passado, a família Garzard foi uma das mais abastadas do reino. Eram respeitados e admirados. Mas tudo mudou quando os membros do clã foram morrendo um a um sob circunstancias estranhas e trágicas. Por fim, o patriarca da família fechou-se em sua residência e nunca mais saiu. Desde então qualquer um que passasse por perto da área sentia um calafrio e um terror intenso. Havia uma estranha maldição ali.

E esta maldição era o que a Companhia do Perigo iria destruir. O último grande objetivo que o bando tinha antes de encerrarem suas carreiras em Graso. Embora fossem muito conhecidos naquelas terras, desejavam ir para o Grande Continente. Se conseguissem ser tão bem-sucedidos lá fora, alcançariam a fama mundial e seus nomes seriam eternamente cantados pelos bardos do planeta.

O jardim era tomado pelo mato alto e árvores retorcidas. Em meio à vegetação, erguia-se o castelete, coroado com uma única torre, emoldurada por três luas: uma azul, uma púrpura e outra branca. Os vigias noturnos que cuidavam do mundo de Vaalamuria e suas centenas de reinos. E naquela noite pareciam estar mais atentos sobre Graso e ao que ia acontecer àqueles aventureiros.

Com um chute ruidoso, o bárbaro colocou a porta de entrada do castelete abaixo. O quinteto entrou em uma enorme sala escura, com móveis apodrecidos e ratos e morcegos agitados com a intrusão. A bruxa murmurou algumas palavras e fez uma esfera de luz surgir em seu cajado. O local se iluminou. Movendo espadas, adagas, maça e magia, os animais sinantrópicos foram todos mortos em instantes. O bárbaro era oq eu parecia mais feliz esmagando os ratos com seus pés enormes.

— Pare com isso! — exclamou o cavaleiro, irritado. — Não é cavalheiro manchar seus colegas com esse sangue asqueroso!

— Não sou cavalheiro, bundão! E posso fazer o que eu…!

— Aaai, cuidado! — reclamou a ladra quando a lâmina do bárbaro passou perto dela. — Quer me matar?!

— Parem de discutir! — pediu a bruxa, batendo o cajado no chão e fazendo um barulho alto. — Temos que livrar este lugar do mal que ele encerra.

— Sinto uma presença poderosa aqui. — disse o sacerdote, apreensivo e beijando seu medalhão sagrado. — Será o espírito do Comendador Garzard?

— Hein?! — exclamou o bárbaro. — Tem fantasma aqui?!

— O que você esperava de um local como este? — questionou a ladra.

— Sei lá… mortos vivos! Esqueletos, zumbis… estas coisas!

— Por favor, rapaz, cale-se! – pediu a bruxa, tocando na testa com a ponta do cajado. – Pois estou justamente tentando saber quantos inimigos há neste local.

— Ora, mas é fácil saber! — o bárbaro sugou uma grande quantidade de ar e gritou: - TEM FANTASMA AQUI?!?!

O berro do homem ecoou por todo o castelete de forma tão brutal que até a estrutura das paredes parecia ter sido abalada. Quando todos os outros membros do grupo estavam prontos para repreender o colega, puderam ouvir:

— NÃO.

A voz gutural reverberou de volta até o quinteto de forma muito mais forte.

— Tem fantasma. — disse a ladra, pegando sua adaga mágica especial com uma pontada de medo, mas sem se conter diante de uma ironia. — E pelo visto um fantasma burro!

— Oba, então lutaremos de igual para igual! — comemorou o bárbaro, dando um tapinha nas costas do cavaleiro. — Vamos ver quem mata mais espíritos, hein? Hein? Vamos apostar?

— Sou um cavaleiro e não faço do meu ofício um jogo!

— Não dá para “matar” um espírito. — lembrou a bruxa, armando-se dos seus sortilégios.

— Mas dá para oferecer a eles o descanso eterno, o que é quase a mesma coisa! — disse o sacerdote que depois declamou: — Ypondera, dama dos elementos, dê-me forças! Dê sua força a todos nós!

E assim começou a maior aventura da Companhia do Perigo.

… e também a última.

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Tag der Veröffentlichung: 10.01.2014

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