O FIO DE ARIADNE
A perversão da rosa
as garras de um silencio estridente
um gato arranha um poeta
com um miado bizarro
Um labirinto sem fim
para onde o destino desse aroma?
A tese de Teseu
a antítese de Ariadne
um fio
a tempestade
o abandono
Mas onde vai esse perfume?
ATÉ A ROSA ADORMECIDA DA METÁFORA
Dá-me a tua mão
é exatamente o que
quero
tu sabes o quanto
te quero
mas se te fazes obscura
de uma maneira
ou de outra
não te quero mais
Diga-me se é possível
apagar tudo
e começar do zero
convencer o vampiro
a fazer o impossível
para tornar-se belo
como um sol
lançar um desejo atroz
ao espaço
e colher estrelas e flores
ao largo do rio
Diga-me se é possível
jogar-se num mar escuro
e escrever como um peixe
rebelde
pleno de emoção
como um arco íris
que se expande no universo
todo
Diga-me se é possível
reciclar os resíduos
das grandes cidades
e injetar a essência
do jasmim em um
mapa fosforescente
Diga-me se é possível
partir uma maçã
pela metade
se é possível
falar mais forte
contar com
todo o detalhe
se é possível
filtrar a rua
e reunir todas
as pessoas numa
praça de bondade
Da-me a tua mão
é hora de correr
até a rosa adormecida
da metáfora
AMA-ME!
Ama-me sem cerimônias
senão voce vai cair
ama-me até certa medida
senão voce vai sofrer
ama-me como sou
ama-me no estado em que estou
hoje
dá-me a mão
Ama-me!
este mundo é meu
eu te dou
assim ama-me
como é devido
Ama-me!
enquanto eu quero o mesmo
como se foras meu milagre
ama-me de longe
é hora de remover céus e terra
faço-o como eu
eu sou ovni
só quero
que me ames sem cerimônias
FRAGMENTOS POÉTICOS
Viver para sonhar
é sonhar para viver,
ébrio de O2.
Viver para sonhar
é sonhar para rejuntar
ao último grito de um corvo,
o primeiro grito estridente de Adão.
Viver para sonhar
é sonhar para rimar todo
esse mundo louco,
como o sorriso do absurdo
de Gioconda.
Viver para sonhar
é sonhar em simbioses,
com os dias que virão...
O que quero
é que chova cada vez mais,
e que os verdadeiros artífices (inventores)
invadam a terra.
MÚSICA AMBIENTAL
´
Nunca é tarde
para fazer algo
atirar-se ao mar por exemplo
e por em forma os peixes coloridos
para manifestarem-se contra o turbarão
Nunca é tarde
para vencer este complexo
de inferioridade por exemplo
subir ao trono das coisas
e fazer calar-se o cão que ladra
enquanto florescem os roseirais
Nunca é tarde
para denunciar o culpado de ontem
de hoje
feito o inocente às vezes
tocar o tambor
dançar de vez em quando
e triunfar sobre uma vida
de grande vazio
UM PASSAPORTE VERDE
Diga-me algo por favor
este silencio sepulcral que floresce
ao largo de um rio de medo
desemboca em um campo
de batalha falso
Diga-me algo por favor
cada um de nós necessita
de descanso
mas antes de sair descalço
do cárcere de cristal
há necessidade de um
passaporte verde
Quem teme o labirinto feroz?
Há um outro caminho
um trem direto Coração a Coração
O TREM
Um trem esconde outro
através da vidraça
se vê um céu de chumbo
as pessoas caminham como formigas
ao longo do trajeto
o rio verte suas águas em afluentes
desconhecidos
me pergunto as vezes:
- onde vou?
- onde vais?
e não há a suposta resposta verde
eu não sei o que tu escreves
e tu não sabes o que eu escrevo
e ainda
as palavras se comunicam
até certo ponto à margem do rio
me dá um arrepio pensar
em concreto
mas não te excita
tudo pode transparecer durante
o trajeto
o trem de velocidade louca
sabe bem onde vai
até o término
os vagões se comunicam
até breve
nos encontramos às oito da noite
no restaurante
LÍNGUA DE EINSTEIN
Uma vez
eu tinha ilusão
só haviam os elefantes
que se balançavam sobre um ovo de avestruz
enquanto as crianças brincavam ao ar livre
Antes tinha medo da poesia
mas agora não
sou completamente outro
e com este frio que faz
sou o fogo personificado
isto é o de menos
Outra guerra se avizinha barbaramente
começa o espetáculo
um poema de cabeça verdolenga tira a roupa
julgando o cometa que passa
e usando língua de Einstein
Entre esse poema completamente desnudo
e expectadores há atrito
É outra vida possível
nesta aldeia global
mas me dá medo pensar na capa de ozônio
Muito colorido este conto pode terminar
este poema se acabar
A ÁRVORE
(A canção inacabada de José Ga
O poeta que criou o mundo à sua imagem/YR
Beija-me
porém tem piedade de mim!
O rio
se faz nascente
e se estende por seus afluentes
um calor sufocante
o sangue
ferve a 45 graus
as raízes
emergem do solo
incrível
mas
não sei ao certo
não sei o que tenho
levo uma eternidade
esperando
!olhe, está ardendo um bosque!
um esparaván
pôs-se a voar
até o vilarejo distante
eu sinto muito a tua falta
beija-me
porém ! tem piedade de mim!
estou tão frágil
(ela me convidou a um beijo
e se converteu em uma árvore)
nunca vi coisa semelhante
algo curioso
se desprende em algum lugar do mapa
(pelo fruto se conhece
a árvore)
porém está árvore
cheira a jasmim
e parece triste
porém mais bonita
uma doce sensação
me embarga
o sangue
circula pelo tronco
o olhar da árvore
radiante de alegria
move montanhas
suas folhas
resumem
tudo
se resume
ao silêncio
à terra
e o medo do desconhecido
uma flecha
corta o ar
fendeu o muro
em um vilarejo distante
era esta uma viagem canção
acende o coração!
Amadurecem os frutos
do meu ventre
os extremos se tocam
aqui
alguém não tem o direito
de protestar
aproxima-te!
És a árvore minha
exposta ao sol
és outro corpo estranho
exótico e livre
aproxima-te!
Vou te contar algo
a partir de agora
a força de esperar
os milagres existem
por toda a parte
com a forma de algo
muto alegre
as flores
alegram o lugar e seus
arredores
uma orquestra sinfônica
toca de vez em quando
o caminho desemboca
num rio
o rio
desemboca em teus olhos
vê-se no final do túnel
que as estrelas brilham
quem és?
És a árvore
donde pendem os ramos
e donde se ouve o hino
das abelhas livres
algo ocorre
quem és?
És a árvore
se vê a alça do sutiã
as folhas se tocam,
ei, árvore!
Fazes-me cócegas,
Ih, ha, oh
não fiques triste
parirás com dor
não fiques triste
eu que de voce
atrevo-me a saltar
em seguida pela janela
não há mais do que isto
que seguir em viagem...
...até a fonte
eis-me aqui
e sem ir mais longe
vejo-te dançar
e cantar sem cessar
isso é exatamente
o que eu quero fazer
escalar a montanha
mais alta do mundo
para gritar:
AMO-TE!
poucos fazem muito
isto não é o bastante
para fantasiar
porém um sorriso teu
compensa-me de tantas
privações
isto não é o bastante
para viver muito tempo
porém uma palavra tua
basta-me
basta-me com tua palavra
isto não o bastante
para sair de férias
porém sonhar contigo
basta-me
e me sobra
eu?
eu conheço minhas limitações
poesia, jogo e perigo
há que se abrir um parentesis
Não te excites
lendo Georges Bataille
em "Minha Mãe",
em sua "História do Olho"
e/ou em sua "experiência de limites"
é outra tese
TE AMO
porém - o que me impulsinou a escrever este poema?
Não sei
algo curioso
talvez seja isto:
enquanto tens medo de mim
e teus cabelos esvoaçam ao vento
eu escrevo isto
etc etc etc
desde o monte cartaginês até o Brasil
via Argentina, Bolívia, Chile, Colômbia,
Costa Rica, Cuba, Equador, São Salvador,
Guadalupe, Guatemala, Guiana Francesa,
Haiti, Honduras, Martinica, México, Nicaraguá,
Panamá, Paraguai, Peru, Porto Rico, República
Dominicana, Uruguai, Venezuela, et...
um panorama que se vê ao
alcance do sonho?
Dó ré mi fá sol
eu?
eu corro perigo
em minha torre de marfim
Em 15/05/2007
O MUNDO
a meu modo de ver
De onde vem o erro?
Este mundo
me pertence
a dança
o meu lugar
a conquista-lo
Por outro lado
tenho o propósito
de recicla-lo
não sou alguém
para fugir do ciclone
mas que fazer
necessito de alguma coisa
os olhos de um falcão
e os plenos poderes do mar
é um desejo meu
vou apagar tudo:
o alfabeto
a metáfora
a conjugação
a sintaxe
o porquê das coisas
do amor
a política demagógica
a ovelha clonada Dolly
o discurso do vento
o hino da paz
como fazer barulho
durante sete longuíssimos dias
vou apagar o mundo
e reconstrui-lo
à minha maneira de ver
No oitavo dia
descansarei em minhas palavras
e sonharei acordado
em dar volta ao mundo
mas onde estás?
ESSA É A QUESTÃO
Para todos
para cada um de nós
para ti
eu escrevo...
Debaixo desta beleza
há algo rebelde
em cada um de nós
há um albatroz
que sobrevoa
todo o universo
em cada um de nós
há partículas
um tema trivial
que não vale
grande coisa...
quando escrevo
tudo me sorri: hi ha ho!
Embaixo da chuva
há uma rosa
que ri: ha ho hi!
Atrás da rosa
há outra rosa
um homem...
que descende
de um primata...
Debaixo de uma pena
nervosa...
uma capa de ozônio
Escrever ainda
vale a pena
ou não vale a pena
essa é a questão!
SER POETA
Esta espécime está ameaçada
apesar de tudo
eu amo este caminho
onde leva este caminho?
Não sei
entre o espinho e a seda
o dinossauro luta contra a morte
o vento sopra forte
o barulho me deixa louco
não gosto da maneira como este mundo
esta música me entorpece
tenho necessidade das uvas
para costurar esse mapa fragmentado
preciso de tesouras
para podar esses falsos pássaros
de cada delfim que voa
mas apesar de tudo
quando tomo algo gasoso
eu gosto da cor rosa
e tenho vontade de dançar
este mundo
é difícil de decifrar
mas contudo
o comboio vai ao centro da cidade
os cachorros seguem o rastro da raposa
os rinocerontes parecem felizes
isso é o mais importante
dó
ré
mi
fá
falta algo?
Em absoluto
entre alegria e tristeza
tudo vai bem!
UGARIT
(Ugarit foi uma antiga cidade portuária da costa mediterrânea ao norte da Síria situada poucos quilometros da moderna cidade de Latakia. Veja, slide.com:Ugarit cuna del alfabeto ugarítico)
Do alto de Ugarit
eu te chamo em voz alta ABC do rio!
Gravo tuas iniciais
em um tronco gigante de oliveira milenar
Amig@ mi@
perdoa meu crime de silêncio!
Se estou ausente
ou se algumas vezes
não te responder como é devido
é porque sinto-me fragilizado
quando escrevo algo muito prosaico
mas fico contente em receber
vários afluentes
eu os absorvo amorosamente
Como é arbitrário eu morrer só ao final
da história!
Outro silencio semelhante ao do rio
o receberei sedento
Entre homens e mulheres
há algo silencioso
um golpe de estado frustrado
diga-me algo
e eu te direi quem és
desconheço teus gostos tua libido e tu etc
mas te conheço bem
um rio esconde outro rio
Do alto de Ugarit
te chamo...abecedário!
Te vejo dançar entre ruínas
e nesse interregno
algo verde floresce aqui
um corvo de Edgar Allan Poe
sobrevoa a localidade de Ugarit
entre palácios e seus arredores
um grande vazio sem limite
É a poesia este fruto do meu ventre
que nasce entre as ruínas
Eu amo voce
Ugarit
o berço do alfabeto perdido
outra voz me chama: voce!
estou sedento
Gibran, Baudelaire Rimbaud Eliot Poe
voam baixo
uma abelha rainha sobrevoa o território
em busca de seu destino primaveril
do alto de Ugarit
te sinto em mim
outras canções de amor perdido
Eu amo voce a distancia
é o meu destino de primavera
EU IMPERFEITO
Não tenho tempo
para morrer
quando leio Lorca ou outro
quando vejo Aragón louco por Elsa
quando o vento sopra forte
quando abro a janela
quando a ferida não sara
quando o gelo se derrete ao sol
quando faz bom tempo
quando faz frio
quando faz calor
quando o vizinho ergue alto a música
quando comemoras teu aniversário
sem empadas sem velas sem fogos de artíficio
quando se forma uma névoa entre os cristais
quando gosto das pessoas que frequentas
quando eu amo andar descalço sobre tuas pálpebras
quando acabei os deveres e vou jogar
quando minha casa está em chamas
quando não tenho fé
quando eu queria deixar tudo
quando eu não rodo mais está máquina mágica
quando eu me lembro de minha mãe
quando me acabou de acontecer algo extraordinário
quando as pessoas ignoram o que eu penso
quando o pastor toca a flauta
quando viajo ao estrangeiro
quando não posso fazer tudo de uma só vez
quando me apetece teus campos tão férteis
quando a terra gira ao redor do coração
quando necessito de um travesseiro para dormir
quando a sala se preenche só com seus odores
quando dois se querem com loucura
quando voce mesma=eu mesmo imperfeitos
quando eu não posso fazer milagres
quando me sinto culpado pelo que te disse no último domingo
quando não pronuncio bem o teu nome
quando os poetas vivos e mortos voam baixo
quando não encontro o negativo de tua foto
quando não me agrado inteiramente de tudo
quando os vejo todos e a todas
quando te molesto
quando te chamo te falo e ouço te vejo
quando sabe toda Tunez e o universo todo
quando nada se vê através da vidraça
quando eu uso os teus próprios olhos para eu ver
quando te amo
sem que o diabo perceba
quando tudo ou nada
quando não há ninguém
quando e quando e quando
eu
com toda simplicidade
sinto saudades de voce
e
me sinto só e múltiplo
prestes a chorar
O CAMINHO DE DAMASCO
As paredes também rescendem
a agua a poesia...
as folhas se estremecem com teu olhar
pesado de mil e uma noites...
Eu também...
espero com alguma ilusão
a ressureição do alfabeto ugarítico
para escrever sobre esse teu estremecimento
que me invade
desde há longo tempo
ou mais precisamente desde que te foste!
QUEM DECIFRA O CÓDIGO?
"Eu irei..."
aqui desde a mais remota antiguidade
tudo me parece velho
o alter ego
o coração e seus arredores
a cabeça
e o que parece muito amigo
quem decifra o código?
estas palavras tornaram alegres outros locais
Algo meu
não compartilho contigo
não digo a ninguém
é o ultimo que se perde
entre o arco-íris e o Arco do Triunfo
tudo se perde
um olhar carregado de tristeza
um ciclo de raiva cega
tudo gira
ao redor da capa de ozônio
a terra a cabeça etc...
Entre o alfa e o ômega
tudo se perde
um suposto amigo
uma rosa
eu mesmo José Ga
todos até Victor Hugo
quem decifra o código?
estas palavras tornarão alegres outros lugares
"Eu irei..."
em busca de outro "abri..."
um labirinto me sorri
todos vivem sem abrigo
entre Romeu e Julieta
há um falso testemunho
uma natureza morta
desde o umbigo é todo o universo
quem decifra o código?
"Eu irei..."
tudo me intriga
o alter ego
o silencio dos medíocres
a bondade de um tal José ga
tudo...
"Eu irei..."
não posso viver à antiga
estas palavras deverão alegrar outros lugares.
COMO SE TE CONHECESSE DESDE SEMPRE
Pela enésima vez
te envio um provável poema meu
não só para te dizer que és tudo para mim
mas também por sentir-me só e múltiplo
como um povo declarado desaparecido
cujo estado dos feridos é grave
Mas não levas as coisas demasiado a serio
se curará logo
amanhã é outro dia
além disso
o sal de cada dia cicatriza as feridas
Pela enésima vez
te envio um provável poema meu
não só para confessar que me sinto só e múltiplo
mas também para dizer-te outra coisa:
este mundo
é mais feio do que parece
um comboio oculta outro comboio
por outro lado
Bonaparte breve retornará
para conquistar a última e serena sereia
e seus arredores azuis
Pela enésima vez
te envio um provável poema meu
não só para dizer que Bonaparte retornará logo
mas também para ocultar outra coisa:
desde que partiste
estou irreconhecível
necessito ver-te
necessito de ti para algo mais importante
nada que não seja necessário
só quero esbofetear diante de ti um tirano e demais insetos
para escrever ao ar livre outro poema livre
a partir de teu jardim secreto
Pela enésima vez
te envio um provável poema meu
não exijo que me respondas agora
não te exijo
só quero ver-te a distancia mas muito próxima de mim
quero ver-te em mim
como se te conhecesse desde sempre
O CÓDIGO SECRETO E SEUS LIMITES
Não!
Tenho meu próprio caminho
eu sei
como funciona
este mundo de 1001 sapatos ponteagudos
eu sei
que esta criança
não sabe nadar de costas
sei
que um triangulo
tem três lados
sei também
que tenho que ver
o lado bom das coisas
Não!
Não digiro os pratos da comida rápida
tenho meu próprio prato picante
Afinal
existem muitas árvores em meu coração
meu coração é muito florido
estou orgulhoso de mim
e sei
como funciona a orquestra
do corajoso pássaro
afinal
Tenho minha própria escada em caracol
para poder colher as estrelas
pentear a minha lua de longos cabelos
e adormecer em seu regaço
- Não zombe de mim-
eu sei
Como funciona a mecanica das coisas
Mas
é essencial saber
O código secreto
e seus limites
O ULTIMO RELINCHO DE UM INQUIETO CAVALO
Quando alguma coisa não parece bem
há que empurra-la com sutileza
não se vê nada através das janelas
só um inquieto cavalo
que desde algum tempo
está completamente embriagado e louco de tristeza
e não cessa de relinchar
no fundo é muito sensível
não suporta mais o ruído da torneira
que não cessa de gotejar em toda a parte
daqui não se vê nada através das janelas
não consigo ler seu relincho estranho e triste
atar a liberdade a este cavalo
todavia não é o suficiente
este cavalo exige outra coisa
um ramo de rosas por exemplo
em um outro mundo diferente
por outro lado
este cavalo está zangado com seu dono
que ainda vive em liberdade
e se acredita ser mais humano que todos os animais
Este cavalo se nega a aceitar essa realidade
tudo conduz ao labirinto
tudo está em estado de alerta
este café não está muito quente
assim como o olhar de minha mãe
- espero que a corda não se solte -
todos se odeiam mutuamente
todos
exceto os pássaros
se querem de verdade algures
Este cavalo não cessa de relinchar
mostra seu enigma com sutileza
para lançar-se em plena natureza
em busca de seu paraíso perdido
EU E NÃO EU
1.
Fora do normal
este quadro
é ferida
lança-me Picasso
sou-te
mais ou menos
entre o pão nosso de cada dia
e a pedra filosofal
entre o finito
e o infinito
Um tal Poe
defende uma distancia multicor
entre um abrir e fechar de olhos
assim estou
mais ou menos
e não estou
2.
Lendo essas palavras
não deixes de te aproximar mais
me perturba o sentimento de ser tratado
como um corpo estranho
nos conhecemos de algum lugar
desde a mais remota antiguidade
para morarmos a essa distancia juntos
tua bondade não tem limites
por isso ainda estou na sala de espera
enquanto
te vejo vir discretamente
és tu
sou eu
é a primavera
SINOPSE DE UM CERTO HOMEM (JOSÉ GA)
Sou
um nome
com uma certa idade
um homem obsecado
com memórias
outro dia
passou sem novidades
amanhã
ou depois de amanhã
talvez possas me acompanhar
até a fonte
não quero mais
que as tuas mãos
entre as minhas
Fala-me mais de ti
como se eu fôra uma ponte
fala-me de ti
pouco a pouco
com todo o detalhe
ou em resumo
fala-me
do império de tua infância distante
em tua casa
(ademais tua casa é minha casa)
ou então
fala-me de ti
- o que aconteceu com voce?
E o acidente? Como ocorreu?
Te necessito
mais do que nunca
vem se quiseres
mesmo que por poucos instantes
e fala-me de ti
diga-me
se é possível
mas se fizeres engodo
não jogo mais
caem as guloseimas
Há várias possibilidades
para se provar a diferença
entre a amargura e a doçura
as vezes
esta criança
tão tímida e gentil
tão tolerante
parece outra criança
relutante raro
com dentes de tubarão
só
para entocar ao fundo
do aquário gigante
entre os peixes maus
o delfin astuto
chegou a conhecer todas as capitais do mundo
aí está o seu intringulis de verdades
esta criança
pode ter perdido sua cidade natal
FORA DO CAMPO
"Desculpe mas não entendi nada"
disse uma leitora lendo um poema meu...
- Tens toda razão,
digo...
Eu escrevo em verso
ao teu contrário
deveria ler o que digo em linha reta
essa é uma grande falha minha
(esse é um defeito que adoro como algo perfeito)
as crianças jogam e brincam uma partida de futebol
os homens famosos jogam uma partida de xadres
Don Quijote com o vento
etc...etc...
eu posso jogar com as palavras
para fazer Poesia
ir de um extremo a outro
desfrutar de relativa liberdade
ao largo etc...
faço o que quero como quero
mas nunca faço como estava previsto
Essa é uma grande falha minha
escrever Poesia
moderna ou nada
Ninguém nasce herói
mas um poeta nasce poeta por rebeldia
dia a dia
aprende a driblar
a matar o juízo injusto da linha
para fazer um gol
dia a dia
aprende a jogar bem
mas fora do campo
DETRÁS DOS RECIFES DE CORAIS
Algum dia voltarei
para ver-te
pela enésima vez
além
de mim
em torno de teu colo de mármore
com um colar de coral vermelho
outro de jasmim branco
Tabarka
outra cidade azul
nos chama uma vez mais
em silencio
para suas casas tipicamente tunesianas
com seus costumes verdes
seus arabescos
suas praias douradas
seu mar rebelde e manso
ao mesmo tempo
colorido como os recifes de corais
colorido como os teus olhos
Detrás da torre
algo com mosaico gótico
nos chama
Desde Tabarka
Se vê o paraíso de mil e uma noites
Vem?
Tabarka
está apenas a um metro
de teu atroz desejo
* Tabarka é cidade costeira a 175 km de Túnis, de origem bárbara
HÁ MUITA LUZ
Só um detalhe
escrevo para matar a morte
Apenas um detalhe
sob um olhar terno
toda planta cresce e floresce rápido
Apenas um detalhe
esta imagem pode estar desfocada
preciso do teu verde olhar
Apenas um detalhe
teu sorriso é um presente diferente
se esfuma com o céu
Apenas um detalhe
minha droga é a música do silêncio
e o canto do coração
É apenas um detalhe
de repente a luz se apaga
mas no meu coração há abundância de luz
ALGO VERMELHO
Por amor
no auge do meu amor
estou ausente
estarei ausente amanhã
e depois de amanhã também
para te ver
pela janela
conforme o combinado
Mas através da vidraça
te vejo escrever um raro poema
te vejo sair descalça da sala de banho
te vejo renascer mais jovem
de tuas cinzas
Algo vermelho
ressoa no cristal
do coração
mas não ouso saltar
vou sair pela porta grande
para te ver
a vida é bela contigo
se precisar de mim
enquanto eu estiver ausente
ama-me de vez em quando
caprichosamente
faz isso por mim
voltarei ocasionalmente
para amar-te
em minha fantasia
Algo vermelho
nos ligará fortemente
durante minha ausencia
Tu és tudo para mim
Eu?
estarei na sala de um estranho poema
para ver-te
Através da vidraça
um cometa
sobe aos céus
ao ar livre
ATÉ NOVO AVISO
O que se
pode fazer
milagres!
te acompanhar
até o resfriamento do rio
anotar
teu belo uni-verso
em meu caderno
O que se
pode fazer!
Remover
ao abrigo
a timidez
tomar o comboio
na cidade
e mesmo assim
não ter para onde ir
O que se
pode é fazer milagres
si
len
ci
o
sa
men
te
Até novo aviso
necessito descanso
te necessito
podes embalar-me?
AVES MIGRATÓRIAS
Como todos sabem
ninguém é profeta em sua terra
por isso mesmo caminho a um repouso
preciso de um descanso
a moeda é uma luz distante
mas no bosque mais profundo
se ouve tocar o tambor
Quem é ela?
é uma formiga
uma criança a quem quero muito
me acerca lentamente
Eu?
Fico contente
como uma criança feliz
fico contente
com seu lindo sorriso
supera a ficção
e nos faz esquecer o mundo inteiro
fico feliz
em descobrir seu jardim secreto
no terraço do coração
esta criança floresce
na chuva
fico contente
como uma criança feliz
um bailarino!
Quando duas aves se querem ternamente
no terraço com o coração frente ao mar
começa o espetáculo
crescente é a alegria de viver!
ZORDA
Zorda minha cidade
é tão pequena
que nem consta nos mapas
mas entretanto
não há uma grande diferença
entre minha cidade e a cidade de Nova Yorque
O gato dorme no sofá
embaixo da tampa da panela
a água ferve
Minha mãe parece feliz
minha mãe tem olhos maravilhosos
gosto de caminhar descalço
sobre suas cheias e povoadas sobrancelhas
CONFISSÃO DO ALBATROZ
Eu me entristeço por ver-te triste
também
me sinto estranho
em meu próprio corpo
com meus próprios sentimentos
porque
estou distante
da realidade de todos
mas a terra
essa terra agredida
com seus bosques selvagens
e seus vulcões de caramelo
ao fundo
é redonda como um desejo atroz
e o movimento de suas asas também
- Vem minha gaivota!
Aquele albatroz
sobrevoa a região
e os arredores
em busca de tuas pegadas
pelo mar
Me entristece muito ver-te triste
te estranho muito
mas dentro de instantes
voltarei
de um momento para o outro
voltarei
para amar-te
conforme o aguardo
Agora mesmo
te espero
para sempre
aqui
pelo mar
em minha torre de marfim
Espera
que clareie que escampe
e vem!
Me entristece muito ver-te triste e só
como um povo perdido
QUERER
De Zorda
minha aldeia adorável
vejo cair a árvore
Vem à minha casa
a terra gira em redor do sol
o sol gira em redor do coração
o coração gira em redor do sol
vem à minha casa
vem comigo
mas o giro da sereia em mim
acho que é em outro lugar
silenciosa e triste
não consigo desatar o nó
preciso de silencio
para interpretar
seu sorriso amarelo de girasol
Chove
em meu coração
sou eu
um ser de cristal
como um caracol
lembro-me
ao atravessar a floresta
até o final
de teu perfume andaluz
te quero muito
vem a minha casa agora
amanhã
não estarei aqui
PRIMAVERA
Quando escrevo
não menciono a cor da rosa
como sugestiva
mas
sem eu saber
e sem que o saibam meus leitores
as palavras florescem
entre linhas pontos e vírgulas
acontecendo a primavera
AS QUATRO ESTAÇÕES
Durante a estação do inverno
te recebo calorosamente
Na primavera da vida...
te recebo com mil e uma cores
em pleno verão
te recebo com alguma frieza
No outono
te recebo 100%
em minha casa de nuvens
PALAVRAS CRUZADAS
TUDO SÃO PALAVRAS
Escrevo
e jogo um Az
escrevo
jogando palavras
escrevo
jogando vocábulos
Com meu diabo
escrevo para jogar
Jogo
escrevendo ao ritmo do meu corpo
jogo com os matizes do silencio
jogo a escrita do estremecimento do rio
jogo para escrever
Jogo um Az
mas um verdadeiro "te amo"
não é escrito nunca com palavras
CATARSE
Chora
arranca-te o abrigo terra e céu
é a mesma estória de sempre
tudo se perde
mas nem tudo está perdido
chora
chora como se deve chorar
és mais bela em teu vale transbordante
a colheita promete fartura
do ré mi
chora
chora mais
procura trair o universo todo
procura que ninguém te veja em mim
já não chove
chora
chora ainda mais
é outra maneira de quebrar as formas tristes
de um coração magoado
chora como se deve chorar
amanhã será outro dia
de frente e de costas
um homem de capa manchado de lodo
puxa um reboque
em pleno centro da aldeia global
e chora
sozinho sob a chuva
e ri
nesse interregno
mas alguma coisa se abre indolentemente
debaixo da chuva ácida
em pleno centro da aldeia global
outro homem de coração ensolarado
passa o dia escrevendo
não quer nada
e ri se acontece alguma coisa
e as vezes chora
nos braços de Granada
...
Rastros levam
ao Cabo de Aín
coração do oásis *
onde se ergue a estátua do jovem poeta gênio**
Ao anoitecer
seu rosto se ilumina
e o lugar também
(*) Tozeur com milhares de palmeiras é um oásis da Tunísia, um verdadeiro oásis saariano, rodeado por dois mares de sal gigantes.
(**)ABOU-AL-KACEM ECHEBBI (Tozeur, 1909-1934), famoso poeta tunisiano
é conhecido por sua obra poética de Canções à Vida
.
UM CÉU COM MOTIVOS AZUIS
É algo mais que amizade
é amor
É algo mais que amor
é fogo
É algo mais que fogo
é oração
É algo mais que oração
é vertigem
É algo mais que vertigem
é nirvana
É algo mais que nirvana
é catarse
É algo mais que catarse
é arco-íris
Tu és
a sétima color invisível
Eu posso te oferecer
este céu
com motivos azuis?
SALVO A ALMA
No pior caso
poderia te dar as sete maravilhas do mundo
No pior caso te daria qualquer cidade
No pior caso
daria o Mediterrâneo o Saara e minha casa
No pior caso
te daria meu corpo e seus arredores
No pior caso
poderia te dar a Terra e ambos Sol e Lua
No pior caso
te daria a árvore maçã tudo...
Salvo a Alma
chave de contato
com a minha serenidade
UM POEMA DE SETE PISOS
No andar térreo
o porteiro crê em Deus
desde então está de joelhos
No primeiro andar
um cão lobo ladra todos os dias
e toma um pouco de vodka à noite
para dançar
No segundo andar
um mundo alucinante
um coração encantado
Escuro e silhuetas
ninguém sabe o segredo
No terceiro andar
um expectador toca uma gaita
e canta:
América!
Mãe América!
No quarto andar
a abelha rainha está doente
De que vive esta gente?
No quinto andar
a janela da mulher bonita
está mal fechada
O vizinho tem olhos vermelhos
No sexto andar
todos tem suas vantagens
e desvantagens
No último andar
o bebê dorme em seu carrinho
sonha em ser poeta
Há quarenta anos
dorme em seu carrinho sonhador
no sétimo céu!
SONHANDO
Meu desafio múltiplo de criança
é o seguinte:
reservar um dia para concentração
na canção do cisne
à profundidade de minha palma
ou em derredor do átomo
e agir contra o corvo!
Meu desafio múltiplo de criança
é o seguinte:
reservar um dia para fazer tudo
tudo
após o segredo do amargo sabor
de um bombardeamento fortuito e em massa.
Meu desafio múltiplo de criança
é o seguinte:
reservar um dia para remover o ouro
e o orgulho.
Meu desafio múltiplo de criança
é o seguinte:
alcançar um dia e ganhar a minha pequena aldeia
onde eu possa livremente dançar
“com meu poema!”
SÓ CHÁ COM LIMÃO
É ela
quem dirige tudo
meu coração e seus arredores
é ela
quem quer ser a rainha do mundo
é ela
quem se nega a falar
com o imperador
é ela
quem luta contra toda a mediocridade
é ela
quem toca o violino
e canta muito bem
é ela
quem vai e volta a cada momento
entre o inferno e o céu
é ela
quem se estica perto do fogo
é ela quem esquece muitas vezes
suas impressões digitais
sobre meus ombros
é ela
quem faz um ruído terrível
quando passa
é ela
quem tem um vestido de rendas
é ela
quem parece feliz
é ela
quem se distrai lendo minhas palavras
é ela
quem é tão bonita
é ela
quem floresce após o nascimento
é ela
quem sempre está falando de mim
é ela
quem vai até o final
a um ritmo infernal
é ela
a quem não lhe importa
o que os outros pensem
é ela
finalmente
corpo
e mente
a flor de meu grande jardim!
TE QUERO
"não se pode contar com um lugar
que não seja feminino"
Ibn'Arabi (1165/1240)
Te quero
mas nada quero
só quero tua liberdade
etecetera...
Te quero
ao meu lado
mas longe das minhas teias
Te quero
gosto muito da tua espontaneidade
que música gostas?
- o silencio
Te quero de outra maneira
etecetera...
Usa a bússola
para seguir o percurso do leão
LIVRO BRANCO
Faz um século que espero
não posso dizer mais..
é o ultimo grito
na virada do caminho:
Faz um frio cortante!
Eu preciso de algo mais
um vulcão por exemplo
para inventar um sonho louco
de um braseiro de dois corações
que dobrem juntos
Faz um século que espero
e necessito de algo mais
um livro inteiro por exemplo
de onde saia uma outra Andaluzia muito verde
em forma de 500 palavras florescidas
em um futuro poema de amor
Assim
a partir de hoje
isto é...
a fim de se estar enamorado por alguma coisa
ou por uma rosa
deve-se ter a habilidade de soltar uma pipa
em plena natureza morta em abstrato
com uma mulher de vermelho
sob seus olhos azuis...
Chego da África do Norte
nada mais do que para levar uma vida feliz
por um tempo ilimitado
junto há um instante andaluz, de longe...
e pensar como é esperado, de outro modo
de acordo com o tempo livre
e no vestido entalhado
da pessoa a quem quero...
O futuro do mundo?
Essa mulher está bem
sempre só
À borda do amor
estou surpreendido
não há ninguém em toda a parte
exceto os albatrozes
e as crianças que brincam sem parar com a pipa
ao longo da praia...
MÚSICA DE FUNDO
Toca-te
à luz de teus olhos
Temes perder o equilíbrio?
Faz bem esta dança
sob esse fundo musical
serás capaz de criar
os grandes momentos da história
É o mínimo
e nem podes imaginar
Toca-te
à luz de teus olhos
CEDO NA TERRA
Primeiro plano:
É cedo na Terra
para dizer a todos
o dia marcado
Ele virá brevemente
pode ser amanhã
ou depois de amanhã
sob o impacto do big- bang
ou com o sol
de cinco milhões de chamados malignos
Que te dizer Ekelöf?
o ponto entorna move-se
clareia
entre duas visões justapostas
aquela de um certo poeta de Grande Azul
e a visão de um outro poeta viking
que rompe cedo o alfabeto
obscuro
sempre
Um ponto no oeste torna-se
claro
É cedo sobre a terra
é tarde sobre a terra
Cedo ou tarde
o poeta o tempo todo
tem tempo para tudo
para Fátima
e para sua” ginástica sueca”
para Hera Vox
e por seus “Vulcões de Auvergne”
para mim...
para voce Ekelöf
e por todo o mundo
exceto um...
O imbecil de um novo tirano
de uma aldeia de MacLuhan
...Atormentado por um obscuro desejo
ele joga roleta à bolsa de valores
com o fogo
joga facas
e por vezes hipócrita
ele toca a flauta
ele joga o jogo
e faz jogar todos os tolos do mapa
Breve
ele jogará cartas
para se jogar tudo
Nós Ekelöf
para acompanhar tortas...
OBJETO VOADOR NÃO IDENTIFICADO
Há algo que não vai
o cão ladra
Ser obsecado
por qualquer enlace
e viver o dia a dia
sob a mesma máscara
Deitar-se
antes do por-do-sol
ser ícone
conforme o previsto
Comer
como todo o mundo
pensar
Como todo o mundo
sonhar
ter medo
como todo o mundo
brincar
como todo o mundo
agir
como todo mundo
construir parir
e nada esperar
como todos no mundo
Há algo que não vai
morrer de velhice prematura...
Eu
tenho muitas coisas ainda que fazer
dar uma volta ao planeta
descalço só
e múltiplo
Tag der Veröffentlichung: 20.01.2010
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