Cover

Cobertura

 

 

 

Aventuras nos Ébanos de

AILEU

A Jornada de uma criança à procura da sua Mãe!

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Autor Textos: José Fernando Real

Pintor: Ricky Arte Moris

Versão: 24 de Novembro de 2022

 

 

Maubito: Aventuras nos Ébanos de

AILEU

A Jornada de uma criança à procura da sua Mãe!

 

Índice:

 

 

 

 

Agradecimento

 

Nem todos os livros foram escritos para serem editados ou publicados!

Muitos nascem, vivem e morrem sem nunca terem sido lidos por outros, que não seja, seu autor.

Outros, demonstrando uma inquebrantável vontade de viver, sobrevivem a desastres, tragédias ou calamidades, seguindo o bom exemplo de Camões salvando os Lusíadas, recompensado no salvamento de Jau durante a miséria do seu Amigo!

Não é a primeira vez que medito nesta questão do “Fado dos Livros”, procurando saber se a Alma de uma Obra tem um destino que ultrapassa o pensamento, a vida e a vontade do seu Autor?

Suspeito que não vou conseguir descobrir, nesta reencarnação, a resposta para esta dúvida, que por vezes surge nos lábios de um conhecido ou de um Amigo.

Confesso porém, novamente, foi um enorme prazer conduzir este processo de “colecionar histórias” reunidas neste álbum a que chamo de Maubito, Aventuras nos Ébanos.

Um imenso gosto de buscar no desconhecido novas histórias que fazem brilhar meus olhos e aquecer o meu coração. Um deleite, de brincar com as palavras, construindo imagens que populam os sonhos do meu sono! Uma Paixão de poder experimentar uma pequena fagulha de emoção daqueles Grandes, que outrora navegaram nas tintas dos mares de papel, com a embarcação da pluma!

Histórias, sonhos, mares e plumas, que me fazendo voar bem alto, me permitem chegar, no instante do pensamento: ao ponto mais Alto da Montanha Sagrada do Ramelau, aos miradouros de Lorothobas e Lorosa’es, aos constantes movimentos de rotação e de Translação no firmamento estelar das constelações e nenulosas, que permitem a minha aprisionada Alma, sentir o gosto da Liberdade!

Histórias, lendas, mitos e contos, do livro que me escolheu para cronista e que agora me atrevo a oferecer a familiares, amigos e conhecidos, com boa vontade, na recompensa da árvore que dando generosamente seu fruto, espera, que este possa ser do vosso agrado e suculento!

Com amor e carinho, agradeço vossa amizade, a inspiração de Elouhanne, minha Musa e a sabedoria de Deus Nosso Senhor!

 

21 de Janeiro de 2022

Magnum Opus: Presente e Agradecimento

 

Maubito – Aventura nos Ébanos de

AILEU

A aventura de uma criança à procura da sua Mãe!

 

Introdução

 

 

Maubito, Maubito!

Tamba sa ita Biru-Bitu?

(Maubito, Maubito, porque rodaste o Biru?)

01 de Abril de 2021

 

 

Súmula:

As aventuras de uma criança de 10 anos, que tendo ficado separado de sua Mãe, de sua Família e de Timor-Leste, enfrenta todos os desafios e ultrapassa todas as dificuldades para poder reencontrar a sua querida Mae, em Bobonaro, Timor-Leste!

As aventuras decorrem em diferentes períodos temporais cobrindo os primeiros dez anos de vida desta criança entre 1970 e 1980.

Contudo, ao longo da narrativa o espaço-tempo deixa de ser linear à medida que as aventuras se adensam nos Ébanos, sendo consequentemente abordados diferentes períodos temporais a partir do ano de 1480, para o qual Maubito foi remetido ao regressar a Timor.

 

Sumário

Maubito é uma criança Timorense de 10 (dez) anos de idade, de acordo com a narrativa do Livro Maubito: Aventura nos Ébanos.

Nasceu em 1970 numa Aldeia das Montanhas de Bobonaro, no então Timor Português.

Filho de uma Mãe Timorense, oriunda da cultura Quemaque e de um Pai estrangeiro (Malae), colocado no território com o Posto de Furriel Miliciano, da Arma de Cavalaria, do Exército Português.

Apesar de ter tido uma infância feliz com a família materna que o criou, acabou separado da Mãe e de suas origens Timorenses em 1975, durante o período de Guerra Civil e da Invasão Indonésia.

Tendo viajado para Portugal na companhia do seu Pai, acabou passado por diferentes experiências: marinheiro, pescador, aventureiro nos mares do Oceano Pacífico, a caminho da Metrópole, onde se tornaria refugiado, órfão e estudante.

Em 1980, na sequência de diversos pesadelos com a sua Mãe, doente e chamando por ele, decide regressar a Timor-Leste iniciando uma Jornada de Aventuras, que o conduziriam das Núbias da Terra aos Ébanos dos Céus.

Maubito regressa a Lisboa introduzindo-se clandestinamente dentro de um navio. Contudo acaba se enganando no transporte que escolheu, embarcando sem saber num barco Carregueiro com destino à Cidade do Cabo, ao invés do Canal do Suez.

Apanhado pela tripulação que se compadeceu por ser uma criança de 10 (dez) anos, sozinho, numa incrível missão, voltou a ser marinheiro ajudando na limpeza, na lavandaria e na cozinha do barco, onde viveu muitas aventuras nas ilhas e nas águas do Oceano Atlântico.

Antes da chegada do navio à África do Sul, um dos tripulantes seu amigo, procura neste país de acolhimento informação sobre alguma família Timorense, eventualmente imigrada para este país.

Nos anos oitenta, muitos Moçambicanos imigraram (legal e ilegalmente) para as minas da África do Sul, na região de Joanesburgo, pelo que havia a possibilidade de alguma família de refugiados Timorenses em Moçambique se ter aventurado para trabalhar neste país.

Acabaram descobrindo uma família que partiu de Timor-Leste para Moçambique durante a Guerra Civil, a qual se radicou em Joanesburgo algum tempo depois.

Maubito foi muito afortunado ao encontrar no sei desta família um Idoso, com conhecimentos de Lian Na’in (Dono da Palavra em Tétum).

Antes de partir de Ataúro na corveta Afonso Cerqueira, Maubito recebeu de presente do seu Avô no leito de morte, um saco de Birus. Contudo não houve tempo de receber os ensinamentos para despertar e acionar os birus.

Felizmente o Tio-Avô, compatriota Timorense, refugiado na África do Sul, sabia muitas Lians (palavras mágicas), o que abria a possibilidade de ativar alguns dos birus.

Foi o que aconteceu com um dos birus! Mas curiosamente, nenhum dos birus do saco oferecido respondeu ao chamado. Foi Dente de Crocodilo, oferecido pelo seu Pai antes de morrer, que despertou com luz e algum ardor no peito.

Nessa mesma noite, apareceu em sonho, o misterioso Sakoko!

Dizendo ser um “Enviado, Mensageiro” do Rai Na’in (Dono da Terra em Tétum – Divindade da Cultura Timorense), ensinou Maubito a ativar o Biru abrindo a primeira porta dos Ébanos.

Contudo, Maubito não sabia do lado perverso, mentiroso e dissimulado do Sakoko, o qual sendo um Espírito maligno e brincalhão, acabou transmitindo conhecimentos parciais sobre as Núbias e os Ébanos.

Seguindo a promessa de regressar a Timor-Leste através de um Portal Mágico, Maubito acabou num túnel que o encaminhou, instantaneamente, para a Casa do Rai Na’in (nos Ébanos) e de regresso a Timor.

Mas sem saber tinha passado uma porta do tempo que o remeteu para o ano de 1480, muitos anos antes da chegada dos Portugueses a esta Ilha.

O portal acabou fechado quando Maubito saiu na Montanha Ramelau, e o biru do crocodilo deixou de funcionar!

Maubito estava preso nas Núbias do espaço e do tempo. Como iria agora regressar a casa e reencontrar a sua Mãe.

Começa assim as Aventuras nos Ébanos, retratando as diversas tentativas de Maubito de ativar birus, de abrir portais mágicos e de regressar a Timor-Leste, no ano de 1980, durante a ocupação Indonésia.

Será que vai conseguir?

Descubra no Livro Maubito: Aventura nos Ébanos.

 

 

 

Summary:

Maubito is a Timorese child of 10 years of age, born in 1970, in Bobonaro Mountains, Timor-Leste.

He was born from a Timorese Mother and a Portuguese father, a Sergeant in the Portuguese Army Cavalry.

He was born in 1970, and was separated from his Mother in 1975 during the Civil War. Since 1980 he is trying to return home.

He was forced to be a refugee in Portugal where he lost his father (TBC) and became an Orphan (1976).

His maternal language was Quemaque, and he learned Tetum Praça in Dili. He also learned Portuguese in an orphanage near Lisbon, between 1976 and 1980.

While staying in the Orphanage he started dreaming about his Mother every day like she was in trouble, crying and calling him, like she was sick or in danger!

He then decided to return home, in TL, entering inside a boat as a clandestine passenger.

He took the wrong boat and end up in South Africa, where he meet a Timorese Family with a Lian na'in who teaches him how to use his sacred necklace with a "biru" made from a magical tooth of a white Crocodile.

In the evening he meet for the first time a magical spirit name "Sakoko" who teaches him how to activate the Biru and open a door back to TL, using a magical timeworn.

He returned to TL, but made a wrong move at the magical house of Rai Na'in the he Ebonies Skies, and ended up in TL before the year 1500, long before the parents were born.

He is back home now, but stranded in a magical time realm, looking for a solution to be able to reunite with is beloved Mother, facing challenges, dangers and difficulties!

Maubito adventures in the Ebonies, talks about these magical, dream, mystical, stories!

We will try to combine words, sentences, poems, texts, and stories with photos, drawings, paintings, and other artistic works.

Making words alive with pictures!

Making real Maubito!

A Child of 10 years, travelling the world in boats,

Travelling in Time through magical doors,

Travelling between dimensions,

Facing Angels and Magical Creatures!

 

 

 

O Segredo da Lafaek Mean

 

Desde o ano de 2012, tenho vindo a recolher Histórias e Lendas de Timor-Leste, na minha busca para descobrir o segredo do famoso Lafaek Mean.

Segundo a Lenda Chinesa que os Portugueses ouviram, o famoso Dragão Vermillion que governa os Mares do Sul da China, teria adormecido numa das ilhas do nascer do Sol.

Grande coincidência esta em que Portugueses procuram o Dragão Vermillion e a Lenda do Menino e do Crocodilo, fala de um “Lafaek”, Avô, que terá adormecido e se transformou na Ilha de Timor.

Fala ainda que o “Avô Lafaek” quando se mexe no sono, causa os terramotos que Timor-Leste vive, pois o crocodilo está vivo!

Não sei se repararam que este “Avô Lafaek” é vermelho? Posso garantir que sim, pois quando caminhamos para o centro da ilha a terra se torna mean (Rai Mean).

Certamente temos terras de outras cores: rai mutin, à beira mar, devido ao sal; terra castanha, devido ao acumular de sedimentos; terras amarelas, pretas, de várias cores; mas não esqueçam que qualquer objeto sujeito ao vento e ao tempo acumula todo o tipo de sedimentos, alguns até endurecem e viram pedra.

Mas apesar de todas as cores, a terra no centro da ilha, continua fundamentalmente vermelha, porque o crocodilo, gigante é vermelho.

Mas não é um Crocodilo qualquer, pois segundo a Lenda do Lafaek Mean, é um Dragão Vermillion, com poderes mágicos, com a capacidade de voar, e um pouco por todas as ilhas da Insulíndia encontramos o seu culto e adoração, sob a forma de “Naga-Mean”.

Este Livro de Lendas de Timor, se chama por isso de: “O Segredo de Lafaek Mean”.

Procuro comprovar esta teoria e ainda encontrar, os famosos “ovos mágicos” que o grande crocodilo foi depositando um pouco ao longo de toda a Ilha, os famosos Fatuk-Lulik.

Nesta minha busca de tesouros do Lafaek Mean (Dragão Vermillion), encontrei várias lendas em cada Município, que achei por bem recolher agora nesta coletânea dos meus trabalhos publicados, ao longos dos anos, na minha Página do Facebook “Lifau 500 Anos da Chegada dos Portugueses”.

O Autor: José Fernando Real

11 de Dezembro de 2018

 

 

Maubito: Aventuras nos Ébanos de

Aileu

A Jornada de uma criança à procura da sua Mãe!

 

 

 

Bussa-Sasin: o Testemunho do Gato

Numa escola básica de Faturilau, Município de Aileu, junto à baliza do suco de Funar (Manatuto), duas crianças brincavam no recreio ao jogo da apanhada.

Numa pequena distração, uma das crianças (Atoy) perdeu o rasto a outra (Anu), olhando perdido para todo o lado sem sinal do seu amigo, o qual escondido correu ao seu encalço, empurrando-o com força.

Sem querer Atoy caiu desamparado no chão, magoando-se e começando a chorar de imediato.

Rapidamente um professor chegou junto das crianças e perguntou o que tinha acontecido.

Anu respondeu, nada, apenas o Atoy que caiu a brincar.

Este retorquiu, não é verdade e o gato é minha testemunha!

Existe de facto nesta região a tradição dos gatos serem testemunhas do Rai Na’in (Bussa-sasin).

Esta Lenda explicaria a presença dos gatos em casa, como oferta do Rai Na’in para os Homens.

Explicaria ainda a tradicional curiosidade do gato em seguir os donos da casa nas suas tarefas diárias, entre os quartos e a cozinha, entre o quintal e a casa, a brincar com as crianças, ou a roçar nas pernas à hora do almoço ou ao deitar.

A tendência do gato em querer dormir na cama junto ao dono, de trepar para suas pernas ao jantar, ou de assistir ao momento de tomar banho ou secar, não passa, segundo esta tradição, da fiscalização regular e ativa do gato que com seus olhos registam na memória as cenas mais importantes da vida familiar, disfarçado no miar da fome ou no bocejar do sono.

O Lia Na’in da Aldeia conta a história de Maun-Daté, filho de uma abastada família de 6 irmãos, com propriedades e animais entre Faturilau e Funar.

Quando o Pai de Maun-Daté faleceu, este ficou com o encargo de tomar conta de sua Mãe, visto ainda morar na casa dos pais com a sua esposa a Sra. Bisoi e dois filhos pequenos.

Foram feitas de imediato as partilhas da terra, entre os seis irmãos, os quais assumiram as casas, os animais e os terrenos que já habitualmente cultivavam.

Contudo para as partilhas do ouro e das pratas, ficou mais difícil saber as partes a repartir, em especial o caibauk, belak e outras joias seculares da família.

Como estes objetos estavam na casa da Mãe, à guarda de Maun-Daté, este resolveu apresentar uma reivindicação junto do Conselho de Anciãos, para ficar com a maior parte da herança da família.

Foi realizado um Tara-Bandu (Tribunal Tradicional) na aldeia, tendo Maun-Daté apresentado fortes argumentos relacionados com o facto de tomar conta dos pais há mais de 10 anos, com responsabilidades de apoio, alimentação e sobrevivência dos pais, sem qualquer ajuda dos outros irmãos.

Acabou por ser bem-sucedido no seu intento, sendo-lhe dado ganho de causa. No final do Tara Bandu, resolveu celebrar a vitória, com uma festa de comes e bebes, convidando todos os vizinhos.

Durante a noite, contudo, após adormecer, veio o ladrão, aquele que chega sem avisar, cortando a linha que liga o perispírito à vida.

Maun-Daté acabou por falecer de ataque de coração (atacasaun em Tétum), deixando para trás sua Mulher (Bisoi), seus filhos e sua mãe.

Quando chegou ao céu, à porta da casa do Rai Na’in pediu licença para entrar e tomar o seu lugar na mesa dos bons filhos.

Contudo foi-lhe dito que antes de entrar seria sujeito à Justiça do Rai Na’in, numa audiência do Tara Bandu do Céu.

Disseram ainda que estaria em causa o peso do seu carácter na balança da vida, medido nas verdadeiras libras de ouro: suas ações, omissões, atitudes e pensamentos, registadas na vida terrena, e que poderia chamar uma testemunha em seu favor.

Pensou no espírito do seu Pai, recentemente falecido, o qual confirmou que seu Filho Maun-Daté tinha assumido a responsabilidade de tomar conta dos Pais, conforme as leis de Deus de honrar Pai e Mãe!

Contudo, o Anjo da acusação resolveu chamar uma testemunha contraditória e inusitada para dar seu depoimento, o Gatinho Teku da Família.

Maun-Daté ficou surpreendido e assustado, pelo facto dos gatos poderem atravessar as portas da casa do Rai Na’in, entre o mundo dos vivos e dos espíritos e temeu pelo seu testemunho.

Convidado a falar o testemunho do gato (bussa-sasin) confirmou que Maun-Daté foi responsável por pai e mãe durante 10 anos, contudo todas as principais tarefas de tomar conta, ajudar e amparar os idosos, foram de facto realizadas pela esposa, Bisoi, ajudada pelos filhos.

Bisoi cozinhava todos os dias, lavava a roupa, ajudava os pais a levantar, preparava as refeições e o banho, retirava as peças molhadas de urina, dava os remédios à hora marcada.

Por seu lado Maun-Daté aproveitava bem os rendimentos da família, todos os dias saía para jogar galos com seus amigos, passando longas horas a comer e a beber tua-sabu.

Frequentemente voltava tarde para casa, por vezes embriagado e com palavras, gestos violentos magoava sua esposa e seus filhos.

O gato tinha sido testemunha do desleixo, desconsolo e falta de apoio à mulher, bem como da ausência e falta de amparo em relação aos pais.

E o testemunho continuou por longas horas, pois tudo o que estava escondido da vida de Maun-Daté tinha ficado exposto pelo testemunho do Gato, no Tara-bandu dos céus.

Muito envergonhado, Maun-daté foi condenado para a sala das penitências, para junto das outras almas com castigos similares.

Desta história fica uma grande lição, pois podemos enganar os outros no Tribunal dos Homens, mas o gato é minha testemunha e a justiça será certamente feita no Tribunal Deus!

 

Anjo caído, o meu nome,

Nas minhas mãos, com maldade!

Minto no ouro, da fome,

Maun-daté, sem lealdade!

 

Justiça que não existe;

Apenas para me, fazer feliz!

Defendi tudo o que assiste,

A riqueza, da minha raiz!

 

Busa-Sasin, sakoku, atrevido,

Que me condenas, com a boca!

Olhos safados, de um intrometido,

Prova-paixão, de vida, bomboca!

 

Sinto-me envergonhado,

Arrependido e sem carácter!

Fui no espírito, apanhado,

Deslealdade, carpe diem, num póster!

 

Por uma vida sem brilho,

Peço ao Rai-Na’in, seu perdão!

Orienta meus passos, num trilho,

Exemplo, Bisoi, compaixão!

 

Os dois Irmãos e o Medalhão do Sol e Lua:

Esta é a história de dois irmãos separados no tempo por muitos anos, e afastados da vista nas circunstâncias da vida.

Contudo, um dia, quis o destino que ambos se voltassem a encontrar, e apesar das desavenças quis a sorte os reunir numa prova em conjunto.

A última vez que ambos estiveram juntos, disseram um ao outro palavras afiadas no azedume e na mágoa.

O Irmão mais velho devolveu o fio com a medalha de Santiago, jurando nunca mais receber seu irmão caçula na sua Casa.

Por outro lado o Irmão mais novo, magoado pela indiferença dos rumos perdidos do irmão mais velho, se afastou por entre torres e penhas.

Muitos anos passaram, mas o rio teimou que ambos se voltassem a encontrar no destino de encontrar o medalhão perdido do sol e da lua.

Dizem que no alto da Montanha mais alta, onde o céu toca a terra, se pode encontrar as duas partes do mesmo medalhão, que pode unir o Kaibauk lunar, ao Belak solar.

Quem possuir o medalhão, consegue abrir as portas do Paraíso, trazendo para o Mundo Terreno o Jardim do Éden perdido.

Esta revelação foi dada na mesma noite, aos dois Irmãos, com metades parceladas, pois se um viu o local onde estava o Belak, o outro viu onde estava o kaibauk.

Sem hesitar ambos se meteram a caminho, pois quem concedeu a mensagem em sonho, avisou que a Montanha estaria no cruzamento dos caminhos de Lorosa’e a Lorotoba, de Taci Feto a Taci Mane.

Assim se reencontraram os Irmãos separados, um caminhando de poente, e outro caminhando de nascente: ambos bateram a face naquela ribeira aos pés da Montanha.

Mas para encontrar o medalhão dividido, havia uma condição em jeito de adivinha:

Para o medalhão encontrar, pedras terás de colocar

Aprumadas em par, e unidas no metal

Sete degraus até alcançar, a luz do sol na noite

Quando o medalhão se unir, olha ao teu redor

Se for belo o que vires, une as pedras com a madeira mais nobre

Solta as águas, transparentes

Deixa os espelhos de água aparecer

Ficarás surpreso do resultado, pois do madeiro unido à pedra

Verás vitrines com porcelana, no Jardim do Éden”

Os Irmãos não entenderam de imediato o que era pedido, e num enfado, adormeceram em cada margem da ribeira.

No dia seguinte bem cedo um dos irmãos colocava duas pedras de alvenaria, alinhadas e aprumadas, formando cada conjunto os degraus de uma escada, subindo a Montanha....

Vendo isso o outro irmão, fundiu metal de algumas moedas de prata, e em cada tosco degrau, unia as pedras com uma cinta de prata.

Degrau a degrau, pedra a pedra, cinta a cinta, se formou uma escada de sete lanços, cujo final tocava as nuvens.

Mesmo tosca, rudimentar em pedra e prata bruta, era visível a força dos alicerces alcançados.

Subir a escada permitiu alcançar um bosque de árvores de sandalo milenares, que trabalhadas e desenhadas, revestiram cada degrau de madeira nobre com ai-cameli.

Quando a tarefa terminou era noite de lua cheia, e após uma breve chuva a abençoar a construção, duas ribeiras paralelas, descendo a montanha, se alinharam na margem de cada degrau, como se quedas de água se tratassem.

Quem viu o evento diria que montanha acima se via, água cristalina, que em cada patamar, formava belos espelhos de água.

Ao amanhecer, floriam flores, árvores fruteiras e relvas com plantas aromáticas Montanha acima.

É este o Mundo Perdido, onde está a montanha mais alta, com as nuvens mais densas, e por onde correm duas ribeiras, onde encontrarás o medalhão que une o Kaibauk-Belak, e deste eclipse sairá o Jardim, a promessa dos nossos antepassados.

Os sonhos são uma possibilidade, nas múltiplas dimensões da vida, mas .... imaginem, que belo seria escadas de pedra, unidas em prata, trabalhadas com ai-cameli, num jardim paradisíaco... seria um exemplo para o Mundo, um corredor, a vitrine de porcelanas finas!

Dois Irmãos e um Sonho, cada um com uma peça complementar...

Oxalá

 

Fatu-Kaslau: a Lenda da Liberdade de Manu-Fuik

Uma Lenda Idalaka-Idaté sobre as Andorinhas

O Suco de Faturilau é famoso em Timor-Leste por possuir uma nascente de água quente, mas poucos sabem da lenda da Liberdade de Manu-Fuik (Pássaros / Andorinhas em Tétum) que se conta na região pelos descendentes da cultura Idalaka, mais especificamente do ramo linguístico de Idaté.

Esta Lenda fica numa encruzilhada de ventos, pássaros e gentes, sendo partilhada pelos sucos vizinhos de Funar (Município de Manatuto) ou de Fatucalo (Manufahi) onde podemos encontrar versões diferentes da mesma história.

Hoje vou contar a versão passada de geração-em-geração para os filhos de Idaté, guardiães do segredo de Fatu-Kaslau, sobre a migração anual de andorinhas que visitam a região.

Segundo esta lenda um rapaz de nome Maun-Buto, estaria à procura de pedras preciosas numa gruta perdida na memória dos tempos, supostamente nos arredores de Fatu-Kaslau.

A gruta era famosa pelo seu brilho de diferentes cores em virtude de suas pedras preciosas, pelo que era muito procurada pelos artesãos de ornamentos tradicionais.

Maun-Buto, apesar de trabalhar como ferreiro de catanas e espadas, também se dedicava à agricultura, à caça e à venda de legumes ou animais, viajando a pé longas distâncias e ficando afastado de casa vários dias ou semanas.

Foi numa dessas viagens que decidiu procurar pedras preciosas na gruta escondida de Fatu-Kaslau, sem dizer nada à sua família, a qual pensava que este tinha saído para vender objectos como de costume.

Mas, desta vez, a expedição solitária teve um grande desastre, pois quando estava dentro da pequena gruta de pedra, registou-se um terremoto na região, que segundo a tradição correspondia à mudança de posição do grande crocodilo (Avô Lafaek).

De repente, uma grande derrocada de pedras caiu, e uma fenda se abriu na rocha, tapando a única entrada para a pequena caverna de pedra.

Ficou apenas uma pequena abertura de luz e ar para a gruta perdida, pelo que, após passar a confusão inicial de barulho, pedras e pó, Maun-Buto compreendeu ter ficado prisioneiro da Fatu-Kaslau, logo no dia em que tinha a grande alegria de encontrar uma grande pepita de ouro, retirada de um filão na pedra da gruta.

Sorte madrasta que aprisionou o nosso herói, num local de difícil acesso e muito isolado de qualquer aldeia ou habitação.

Durante horas e dias gritou por socorro, e na escuridão da noite, nas horas de maior desespero rezava incessantemente ao Rai Na’in (Deus) pedindo misericórdia e a sua divina intervenção.

À medida que foram acabando as poucas provisões de comida que tinha trazido e que terminava a água para beber, também foi desaparecendo a esperança de que alguém ouviria os seus apelos e removeria as grandes pedras que bloqueavam a saída.

Em grande agonia, e já no limite das forças e da sede, suplicou a Na’in Feto (Nossa Senhora) em sede de recurso para que interviesse em seu favor, iluminando o caminho de uma solução, pois ainda era muito novo para regressar a casa do criador.

Vendo seu coração puro e sua súplica sincera molhada de lágrimas, Rai Na’in decidiu atender ao apelo apresentado, enviando para o local o único mensageiro capaz de entrar na caverna, pela pequena abertura de luz que ainda restava: uma entidade lulik (mágica), um duende da mitologia Timorense conhecido como Mahoca, da linhagem dos Fatu-Li’an (os que falam com as pedras, em Tétum) protetor da terra e ligado à natureza mineral.

Através do Mahoca, o Rai Na’in concedeu a solução de transformar o nosso Maun-Buto, em andorinha em troca do pagamento da grande pepita de ouro encontrada.

Maun Buto ainda hesitou face à enorme perda económica que esta decisão acarretava, mas acabou se conformando com a troca após ponderar com carinho a oferta de liberdade e vida concedida pelo generoso Mahoca.

Fechado o negócio sagrado, selada com a ferida de uma gota de sangue derramado pelo dedo anelar esquerdo, de Maun-Buto, o pequenino Duende Mahoca, pegou no Biru-Osan Mean (pepita de ouro com sangue) e orando as palavras mágicas de Fatu-Lian, transformou o nosso herói, numa pequena andorinha por um dia.

Feliz, alegre e muito contente, Maun-Buto logo saíu pelo buraco da gruta de Fatu-Kaslau e voou, voou até à mais alta das nuvens, até à mais distante montanha de mar-a-mar.

Finalmente, passados vários dias desde o seu desaparecimento, eis que Maun-Buto regressa à sua aldeia, com esta fábula, mito ou lenda, na sua memória de viajante.

Não tinha nenhuma prova ou evidência que pudesse atestar a sua história, a qual para muitos parecia loucura de um sonho inventado nas suas muitas histórias.

Lenda ou verdade, este conto tem alimentado a imaginação de muitas crianças que incessantemente procuram ao longo da ribeira be’e manas (águas quentes) de Faturilau, Posto Administrativo de Lequidoe, Município de Aileu, a única pista deixada pelo Duende Mahoca, escondida numa suposta trilha de pedrinhas escondidas na evaporação-fumaça, acompanhada de uma adivinha e de um aviso:

 

Entrega ao Mahoca,

teu bem mais precioso,

E se tua vontade for,

Biru- Mean te darei!

Mas, se, no meu favor,

Perderes, a cabeça oca!

Fica o biru, desejoso,

No voo das andorinhas,

Que em loucura te farei!”

Não se admirem pois, se visitando as águas quentes de Faturilau encontrarem crianças e exploradores à procura de pedrinhas, na esperança de conseguir o biru sagrado e de desvendar o segredo da Liberdade das andorinhas!

 

Raimansu, A Lenda do Husar Talin (Umbigo de Timor):

Em Aileu Vila, nas terras de Raimansu entre o Suco de Liurai e o Suco de Hoholau, existe uma Lenda que fala estar aqui o Husar (Umbigo) de Timor.

Esta história facilmente se justifica pelo facto de se acreditar que o Município de Aileu estar no centro da Ilha de Timor, na encruzilhada das estradas que ligam Tasi Feto (Mar do Norte) a Tasi Mane (mar do Sul), quebrada pela cordilheira de montanhas que liga Lorosa’e (este) a Lorothoba (Oeste).

Contudo as Lendas que falam nesta história, parecem esconder uma Lenda Mais profunda, oculta e desconhecida, que liga Aileu à esquecida história do Husar-Talin (cordão umbilical) da Nação Timorense.

Segundo reza esta lenda contada pelos descendentes dos Avós Hurai, mais antigos, e ascendentes do Hurai-Tartihi, Seloi-Hautama ou Hatbos-Dailor, tudo teria começado com as mãos do poderoso Rai Na’in.

Logo após a criação da Ilha de Timor, este decidiu plantar e semear as primeiras plantas, tendo assinalado o local com o seu dedo indicador direito, desenhando no centro da Ilha, onde se localiza agora o Município de Aileu, uma cruz, à qual os ocidentais chamam de Axis Mundi (o eixo do Mundo).

No centro desta encruzilhada teria o Rai Na’in semeado a primeira fini (semente) de uma árvore, muito reverenciada em Timor-Leste, vulgarmente conhecida como Ai-Alin (ou Gondoeiro).

Mas este não era um Gondoeiro qualquer. Existem muitas variedades desta árvore de origem tropical, muito presente entre a Oceania, a Insulíndia e em outras latitudes próximas ao Equador.

Conhecida científicamente como Ficus-Benjamina, adquiriu em diferentes países e longitudes, variados nomes de acordo com as lendas e culturas locais, seja gondão ou árvore da borracha em terras de expressão lusófona, de Banian na Polinesia, de balete, nas Filipinas ou de Weeping Fig em terras de expressão anglosaxónica, mas em todas possuem um aspeto, espiritual ligado ao seu rápido crescimento, à sua capacidade de resistência ou de adaptação a diferentes temperaturas e condições, e ao fácil multiplicar dos seus troncos criando aparentes irmãos clonados de si-mesma.

Mas o Ai-Alin, que queremos falar na Lenda do Husar-Talin de Aileu, é diferente de todas estas, pois explica a origem da palavra Ai-leu, antes da chegada dos Portugueses a Timor.

De acordo com este conto, o Rai Na’in teria semeado na encruzilhada da terra uma árvore sagrada chamada de Ai-Mak-Kleuk (que significa: o Gondoeiro que enrola os ramos), a qual posta na terra logo cresceu nas primeiras chuvas, tornando-se fonte de vida para todos os seres vivos ao seu redor.

Muitas teorias residem em torno desta árvore com pontas enroladas, que tal como a primeira árvore da Bíblia Cristã (ver genésis 2:9), possuia a benção na cura da sua seiva (parente da seiva-ficus ou árvore da borracha) ou da longevidade nos seus frutos (presente na mítica árvore da vida).

Mas, infelizmente os Homens no seu egoísmo e no seu ciúme, deixaram de ouvir as palavras de paz e amor do Rai Na’in, crescendo nas brigas do conflito, foram se afastando do equlíbrio da natureza e eventualmente ocorreu o primeiro derrame de sangue motivado na profunda discórdia da dor e da inveja.

Segundo a lenda, com o fakar-ran (derrame do primeiro sangue) ocorreu também a primeira seca e a primeira perda de folhas do Ai-Mak-Kleuk, e o Rai Na’in entristecido, resolveu soprar sobre os canos enrolados, criando em torno da árvore uma espiral de vento, tempo e espírito, que oculta o local onde está guardada, escondida e a salvo, o paradeiro desta árvore mágica.

Com a espiral do caracol do gondoeiro, veio o primeiro nascer do dia e do pôr do sol, seguido da contagem dos meses e dos anos, presentes no avanço em espiral do tempo.

Cada dia assistimos por conta dos caracóis do gondoeiro, ao paradoxo do repetir do dia e da noite, em tempos muito diferentes da origem do Ai-Mak-Kleuk.

Obviamente este sopro do espiral da vida, causou grande tristeza nos povos que habitavam a terra, pois tinham perdido de uma só vez a fonte da cura e o segredo da longevidade.

Mas esta decisão do Rai Na’in, foi particularmente sentida pelo Povo de Raimansu, o qual prometendo alterar sua atitude e comportamento, passaram a ser mais silenciosos no ouvir (nonok hodi rona), mais vagarosos no interpretar (neneik hodi hatene), mais temperados no reagir sem procurar problemas (atu la buka problema), mais abertos a aceitar as ideias dos forasteiros (prontu simu ema seluk nia ideia) características muito presentes em Aileu, na Cultura de origem Mambai.

Mas, apesar de uma pista deixada por Rai Na’in, para assinalar a direção da ai-alin perdida, uma fatuk-lulik (pedra sagrada), com grande calor interno e magnetismo, que os ocidentais conhecem como a Pedra de Omphalos na mitologia Grega;

Foi em vão a transformação das pessoas em Povo Manso, pois o mal já estava feito e não era possível resolver o enigma por detrás do mapa dos aneis da espiral do tempo, que escondem a origem do caminho da árvore da vida, a mítica Ai-Mak-Kleuk, escondida na encruzilhada da Rai-Husar (terras do umbigo), entre Rai-Klaran e Foho-Hadulas.

Passados muitos anos e séculos continua a busca incessante pela árvore sagrada, perdida, que dá nome ao nosso Município de Aileu, o qual honrando a memória do umbigo da luz (navel of light), chora frequentemente numa canção:

 

Ai-Mak-Kleuk, árvore da vida,

Que triste foi o te perder,

No ciúme da inveja, despedida,

Sabemos hoje o que é morrer!

 

Volta para nós ai-alin querida,

Mostra o caminho para te ver,

Palavras doces, fontes de vida,

Desenrola os canos do esquecer!

 

Afasta os Querubins da terra,

Leva para longe tua catana de fogo,

Termina a nossa espiral espera,

Devolve o teu fruto num fôlego!

 

Quem te quiser encontrar,

Deve seguir os tortellini da pedra,

O omphalos ultrapassar,

Terminando no rai-kleuk vedra!

 

Assim termina a Lenda do Husar Talin, em Aileu Timor-Leste, o local segundo dizem se encontra a Ai-Mak-Kleuk, a árvore com os frutos e os canos enrolados de vida, no eixo central de Timor.

 

Remexio: Há Morangos em Timor-Leste!

Estavamos a almoçar quando a minha amiga Mimi me disse que haviam morangos em Remexio. Saimos de Dili a caminho desta aventura!

Depois de mais de 90 minutos na estrada entre Dili-Balibar-Aileu, há um entroncamento com uma placa dizendo bem vindo a Remexio, do lado esquerdo (direcção Dili-Aileu, cerca de 2 quilometros depois de Balibar).

Entrando na estrada de Remexio começa a aparecer uma vegetação muito densa, entre palmeiras e árvores de madre café. De repente um local para descanso junto a uma queda de água convida o viajante a uma pausa.

Vinte minutos depois entramos em Remexio. Parece que aumentaram o número de casas na entrada da vila junto à antiga casa do Chefe de Posto e ao actual posto de Polícia.

Continuando aparece do lado direito a Igreja de São José Operário de Remexio, um grande campo de futebol com muitos jovens a jogar à bola e no lado direito por detrás do antigo posto de saúde, os alojamentos da Congregação das Irmãs Dominicanas de Santa Catarina de Sena.

Parei para andar a pé e do lado esquerdo do campo de futebol, mesmo ao lado do Centro Comunitário Teresa Saldanha, aparece a primeira gruta de um total de três grutas do alto de Remexio.

A primeira consagrada à Nossa Senhora de Fátima, junto as salas de aula. Subindo o escadario de acesso ao centro paroquial do lado esquerdo a gruta mais antiga aos pés do salão consagrada à Virgem Peregrina que percorreu Timor-Leste após o ano santo em 1988.

O salão paroquial, a casa do pároco e a Igreja de São José Operário de Remexio fazem parte de um único edifício no alto do monte. Mas não acaba aqui, pois logo a seguir mais escadas, mais monte, e no alto da montanha, junto a duas Cruzes, a ultima gruta consagrada a Sagrada Familia.

Voltando aos alojamentos da Congregação das Irmãs Dominicanas de Santa Catarina de Sena, tinha uma mousse de maracujá à minha espera com um bom chá de cidreira a acompanhar. No topo da mousse não queria acreditar: MORANGOS!

Fui ver atrás dos alojamentos, um jardim, uma estufa, e alguns morangos de presente. Disseram as Madres, a semana passada comemos grandes morangos, lamento esta semana só temos pequenos!

No final visitamos a capela e mais uma surpresa: crescem ROSAS em Remexio, conforme se pode ver nos pés da Nossa Senhora.

O Maubito e a Kathleen tiraram fotos e fomos visitar o Centro Comunitário Teresa Saldanha.

Um atelier de costura, bordados e panos tradicionais. Ficamos a saber que a Marca Remexio faz os famosos “crocodilos em tais” e combina bordado de ponto de cruz com tais, em bolsas, mochilas e outros objectos muito práticos.

O centro conta ainda com uma sala de aulas de Português, sala de informática e centro comunitário com internet grátis da Timor Telecom.

Com tanto para visitar, logo caiu a noite e tivemos de regressar a Dili.

Estão em Dili? Não têm nada para fazer? Porque não uma viagem ao remexio, cerca de 90 minutos de distância em tempo seco!

Paisagem, floresta, flores, frescura do nevoeira, claridade do sol, mousse de maracujá, morangos, jovens a jogar futebol, grutas encantadas, vista panorámica emuitos presentes de toalhas e bordados pelas jovens do Centro Comunitário Teresa Saldanha, Irmãs Dominicanas de Santa Catarina de Sena!

Paraíso na Terra Sagrada de Timor-Leste!

 

Muscae Volitantes: lombrigas do ar!

Maubito teve um sonho, que entrava em grande velocidade no centro de uma galáxia, em nebulosa espiral, para se encontrar no centro de um imenso globo de cristal.

No hemisfério oriental desse globo viu uma raiz (ai-abut em Tétum) a germinar de uma semente, criando profundas e múltiplas raízes, que pareciam ir além dos limites da cúpula lateral de luz.

Uma enorme e frondosa árvore foi crescendo a partir da semente e á medida que as raízes cresciam, também cresciam os ramos e as folhas desta árvore, no globo de cristal.

À medida que a árvore preenchia a quase totalidade do globo, algumas folhas de luz, pareciam se desprender dos ramos da árvore da vida, flutuando erraticamente no ar.

Com o olhar mais atento, Maubito tentou se fixar nas folhas, as quais pareciam ser pequenas lombrigas transluzentes, esvoaçando no ar.

Sempre que Maubito olhava fixamente para estes seres transparentes, quase invisíveis, os seus pontos mais negros pareciam olhar de volta para o nosso pequeno herói.

Logo se afastavam à velocidade da luz, para a direita do olhar do Maubito, ou para a esquerda, sendo difícil acompanhar seu movimento instantâneo e imediato.

Outras lombrigas pareciam simplesmente cair, desordenadamente, desaparecendo antes de chegar aos limites do hemisfério inferior.

Também se viam luzinhas a piscar, como se fossem insetos, rápidos, luzentes, deixando uma pequena trilha, de um gás etéreo, mais denso.

Quando olhou mais fixamente, treinando o seu olhar em cada forma flutuante, conseguiu ver, diferentes formas, desenhos, como se as lombrigas e insetos voadores se transformassem em matizes de uma enorme pintura universal, translúcida, luzente!

Finalmente, surgiram por entre lombrigas, minhocas, insetos, luzes e tubos de luz, com inúmeros globos volitantes, ora pintados de branco na extremidade com um ponto negro, ora pintados de branco ao centro, com variação de cores nas extremidades.

Globos voadores que atravessando sem qualquer obstáculo a árvore da vida e os seres etéreos, pareciam fugir pela cúpula do hemisfério ocidental.

Para onde vão os globos? Perguntou Maubito no sonho!

Seguindo o seu rápido trajeto acabou saindo do globo de cristal, pelo olho da imensa galáxia, em nebulosa espiral, o mesmo local por onde tinha entrado!

Mas afastando-se ainda mais, acabou percebendo que se tratava de facto da nebulosa de uma íris ocular, terminando o sonho com a voz grave e poderosa que disse: “são teus olhos Maubito! são teus olhos!


 

Ficha Técnica - Somos Maubito!

Os textos, ideias e conceitos deste livro foram desenvolvidos pelo Autor José Fernando Real, com a inspiração de Elouhanne, Espírito Protetor a quem muito agradecemos.

As imagens, desenhos e pinturas foram na grande maioria desenvolvidas pelo Jovem Artista Timorense e Pintor do Grupo Arte Moris, Ricardo Santos que assina como Ricky. Muito obrigado pelo teu contributo que permitiu fazer nascer o Maubito nas Redes Sociais.

A cada imagem o Jovem Herói ganha forma, ganha vida e se consolida como uma referência para uma Escola de Jovens Pintores, Desenhadores, Ilustradores e Sonhadores Timorenses!

Algumas imagens, desenhos e aquarelas foram desenvolvidos pelo Filho do Autor, Kevin Real Pereira Gama (8/9 anos de idade), a quem muito agradecemos por ter sido inspiração para o desenvolvimento do boneco Maubito (Cabelos espigados no ar).

Finalmente o Autor também desenvolveu algumas imagens em formato desenho, de forma a encorajar a mobilização de jovens desenhadores, pintores e ilustradores Timorenses, sob o lema: “Pintar Maubito, um Herói de todos os Timorenses!

A todos os sonhadores que com traços, riscos, palavras e ideias vão soprando penas e folhas para o Maubito: Aventuras nos Ébanos, sem a vossa ajuda preciosa, não seria possível levar a bom porto este barco, permitindo o reencontro do Maubito com a sua Mãe!

 

 

 

Quando olhamos as estrelas:

Será que vemos o Passado?

Ou será o Futuro que nos contempla?

 

 

Díli, 30 de Setembro de 2022

José Fernando Real

Autor dos Textos: José Fernando da Silva de Araújo Real

Nascido em 07 de Outubro de 1970, em Lyon, France

 

1991 – Exército Português (Mafra)

1992 – Regimento de Infantaria de Chaves

1996 – Hospital Militar Regional do Porto

1999 – Licenciatura em Relações Internacionais, pela Universidade Lusíada

2000 – Inspector-Adjunto, Serviço de Estrangeiros e Fronteiras, Portugal

2002 – UNMISET, Conselheiro do Serviço de Migração, Timor-Leste

2006 – UNOTIL, Conselheiro Chefe, do Serviço de Migração, Timor-Leste

2006 – Organização Internacional para as Migrações, Missão de Dili, Timor-Leste – Assessor Técnico e de Formação do Serviço de Migração, Timor-Leste

2012 – Assessor no Gabinete de Apoio à Actividade do Cônjuge, Presidência da República Democrática de Timor-Leste (RDTL)

2012 – Secretaria-Geral da Fundação Centro Quesadhip Ruak, Timor-Leste

2017 – Gabinete do Antigo Presidente da República, Major-General Taur Matan Ruak

2018 – Gabinete do Primeiro-Ministro de Timor-Leste

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Fonte: Elouhanne

Página: https://www.facebook.com/MaubitoTL

 

Pintor: Ricky, Arte Moris

Ricardo Santos, de 29 anos, nasceu na região de Balibo, Bobonaro.

Membro da equipa da Arte Moris, Ricardo usa representações tradicionais, cosmológicas, criacionistas e simbólicas para contar a sua história através da pintura. As suas obras fundem o realismo com o surrealismo, com a ascendência e tradição um elemento crucial da sua representação cultural e social, bem como das suas visões sobre o passado, o presente e o futuro.

 

English:

Ricardo Santos, 29 years old, was born in Balibó, Bobonaro.

He is a Member of the Arte Moris Team and co-author (Painter) of the Maubito, Aventures in the Ebonies Stories. Ricardo uses traditional, cosmological, creatures and symbolic representations to tell a story through paintings. His paintings are a mixture of realism and surrealism, with the Timorese ascending and tradition as a crucial element for the cultural and social representation, combining visions from the past, present and future.

 

 

Referências

 

 

Aileu:

02/11/2019 - Bussa-Sasin: o Testemunho do Gato, Fonte: Bere-Idaté (Álbum de Fotos): https://www.facebook.com/pg/Lifau-500-Anos-da-Chegada-dos-Portugueses-a-Timor-355623231213666/photos/?tab=album&album_id=2358803634228939 (nota): https://www.facebook.com/notes/lifau-500-anos-da-chegada-dos-portugueses-a-timor/bussa-sasin-o-testemunho-do-gato/2358809877561648/

04/11/2017 - Os dois Irmãos e o Medalhão do Sol e Lua, Fonte: Nain Bere: https://web.facebook.com/pg/Lifau-500-Anos-da-Chegada-dos-Portugueses-a-Timor-355623231213666/photos/?tab=album&album_id=1344802622295717

23/04/2020 - Fatu-Kaslau: a Lenda da Liberdade de Manu-Fuik, Fonte: Bui-bu-rilau (álbum de fotos): https://www.facebook.com/pg/Lifau-500-Anos-da-Chegada-dos-Portugueses-a-Timor-355623231213666/photos/?tab=album&album_id=2718411644934801 (Nota): https://www.facebook.com/notes/lifau-500-anos-da-chegada-dos-portugueses-a-timor/fatu-kaslau-a-lenda-da-liberdade-de-manu-fuik/2718432274932738/

17/06/2019 - Raimansu, A Lenda do Husar Talin (o umbigo de Timor): Fonte: Hurai-Bere (Álbum de Fotos): https://web.facebook.com/pg/Lifau-500-Anos-da-Chegada-dos-Portugueses-a-Timor-355623231213666/photos/?tab=album&album_id=2110249039084401 (Notas) https://web.facebook.com/notes/lifau-500-anos-da-chegada-dos-portugueses-a-timor/raimansu-a-lenda-do-husar-talin-umbigo-de-timor/2110252649084040/Remexio: Há Morangos em Timor-Leste!

 

 

 

Ressalva

 

Esta Magum Opus é um barco beiró que tenta navegar nas águas do mito, da lenda, do conto e da fábula num universo de sonhos da Lua e do Sol.

A crítica construtiva é bem vinda, pois a repreensão agrada a Deus e educa aqueles que tentam viver na sua graça!

Contudo os textos que aqui escrevo, são essencialmente de ficção, com alguma pesquisa e ponderação, pelo que não podem nem devem ser entendidos como “verdades”.

Se buscam a verdade ou a perfeição, estão certamente na obra errada, pois existem outros meios, sítios e formas mais adequadas de as alcançar, pelo que aconselho o afastamento imediato deste livro e a consulta de obras alternativas científicas, filosóficas e religiosas.

De facto, qualquer coincidência entre os textos propostos e a realidade, seria mera coincidência.

A Liberdade de Expressão artística, literária ou cultural prevista na Declaração Universal dos Direitos Humanos e na Constituição dos Estados Democráticos, termina quando interfere com a tranquilidade e a paz dos nossos irmãos mais próximos.

Se a minha querida Irmã ou Irmão se sentir de algum modo ofendido, lendo estas palavras escritas, com boa vontade, por este humilde servo imperfeito, por favor aceite meu sincero pedido de desculpas e caminhe de imediato para outros conteúdos menos ofensivos.

Agradeço por isso a vossa boa vontade e compreensão. Independentemente da sua decisão, permaneço à vossa disposição, queridos amigos leitores.

Antenciosamente, O Autor

 

Fonte: Elouhanne, a quem agradeço

Data: 14 de Maio de 2020

Impressum

Texte: Jose Fernando Real
Bildmaterialien: Ricardo Coco Leo Santos
Cover: Jose Fernando Real
Lektorat: Jose Fernando Real
Korrektorat: Jose Fernando Real
Übersetzung: Jose Fernando Real
Satz: Jose Fernando Real
Tag der Veröffentlichung: 06.07.2023

Alle Rechte vorbehalten

Widmung:
Género: Em princípio a obra Maubito: Aventuras nos Ébanos, poderia enquadrar-se no género de fantasia heroica com aventuras desenvolvidas em diferentes dimensões de tempo e espaço, abordando diferentes períodos históricos e pré-históricos de Timor-Leste, com frequentes abordagens de temas sobrenaturais através de conceitos e personagens da mitologia e das lendas culturais Timorenses, livremente interpretados pelo autor e pelo ilustrador. A obra começa com o nascimento de Maubito (o herói e protagonista das aventuras) no ano de 1970, o qual coincide com o ano de nascimento do autor (José Fernando Real) e desenvolve o conceito de uma criança Timorense, nascida do matrimónio de um Pai Português e de uma Mãe oriunda da Cultura Quemaque (um dos dialetos Timorenses), que ao ser confrontado com o processo de descolonização Timorense (a partir de 1974), com a guerra civil subsequente (entre 1974 e 1975) e com a invasão (Dezembro de 1975), se vê obrigado a viajar como Refugiado para Portugal

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