Lilian Reinhardt
ESPUMA E SOMBRA
De onde vens palavra minha?!
Para onde vais?!...
Espuma e sombra sob os véus
reluzes e sombreias a minha prancha
doce é o enlevo do teu beijo
e formosa a composição de tuas formas
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mas a sombra não descalça os teus pés...
1.Essencial é guardar nas mãos
a brancura dos ossos do poema.
2.Queria passear de mãos dadas com a palavra
sem conceitos.
3.Queria sempre sorver da água fresca de verbos
recém colhidos.
4.O gesto na acústica entoa a metáfora, seus tons,
suas claves, dobram os sinos quando a catedral remove a pedra vestal do teu silencio!
5.Fala-me da tua dor, com certeza nos encontraremos nela.
6.Quando saio da minha casa e fico um pouco na tua morada,
esqueço as dores da minha.
7.As palavras não bastam, a fonte é silenciosa canção...
8.Não me espere cedo, chegarei tarde quando a colheita já estiver madura.
9.É preciso ouvir a voz primitiva, os ecos da própria ancestralidade,os sons da floresta infante debaixo da pedra guardada, me diz do teu canto antes que os ossos da noite expire...
10. Dá-me a tua palavra de cheiro e saberei reconhecer o sabor da florada
de tua alma.
11.O meu corpo- fragmento busca as tuas infinitudes entre um vale e outro quando a minha montanha se ajoelha.
12. As nuvens escrevem além do que o vento traça, selada liturgia.
13. Entre os trigais ainda agora ele passou e deixou rastros por onde
as sementes escrevem a vida.
14. Na lã da infância se guarda o eterno
disse um alfabeto ancião sob florido cajado
de encovado sorriso descovado e de
cerne de cabelos de perfumada ausencia.
15 . O amor é um verbo de renascenças
soprado debaixo da pedra levita os sonhos dela.
16.Não sou o verbo que me delira mas canto e decanto o delírio da minha lira.
17.Os céus guardam os seus centeios, o amor é pão que se faz ceia entre os lençóis.
18.Há uma franja sem assentos na última calada desde o primeiro tempo quando me murmuras as filigranas dos teus passos...
19.No principio acudiu-me um poema, pairava sobre uma tênue folha branca.
20.Esse cão que lambe os pés do dono conhece das verdades do amor que eu não conheço.
21.Meus olhos espiralam e beijam os rosto de tuas chamas.
22.Tua alma habita-me além da razão os meus lírios de fogo.
23.Com és belo quando caminhas desnudo pelo jardim.
24.Quando a vigília escurece a aurora, os ciclones vagam pela noite,o verso já não sabe mais onde mora
25.Antes de ouvir os meus passos na acústica de silêncios ouvirás os sinais dos meus rastros, das palavras que deixarei cair pelos caminhos.
26.Sou filha do silencio, da água que lava a canga, que lambe a pedra...
27.Quando escurece os teus versos acendem e não há espetáculo maior do que quando caminhas descalço.
28.O vento corta o pão entre os lençóis, o olor se esvai...
29.Olho na olho apesar da minha incompreensão meus olhos d’água enchem a cisterna
30.Desde ontem quando a arca emergiu das águas salvou as vozes da eternidade
31.Na fenda dos lábios a quimera que acorrenta a gota à minha fera.
32.Há um canto que vem de longe e vaza dos olhos do teu oceano.
33.Onde vou com o esboço dessas estradas?
34.Deixa-me respirar na manhã que fia os meus alvéolos esta minha salga.
35.Desde a primeira pedra te espero à beira do rio onde nasce o milho e os peixes de jade e sangue.
36.Guarda-me nesse teu manto enquanto revoa a brancura.
37.Eu carrego minha estrofe pelas minhas cidades nuas, pelas ruas derretidas do meu tempo.
38.Esta palavra não carrega nem cinzela o pó da última pedra que guarda o anjo adormecido e a fera em vigília.
39.Teu cheiro é a palavra mais além de ti.
40.Bordarei sem palavras esses teus umbigos, adejarei borboletas.
41.Planto esse pé de poema no canteiro do agora.
42.Em veneno e loucura a tua pele rasga o sal da ancestralidade da minha.
43.Onde vais minha rosa, onde vais? Ainda agora a luz te amamentou...
44.Um poema carrega sempre algo aceso dentro dele!
45.Quando a cadeira fala com a mesa a toalha branca com meus sonhos brinca.
46. As palavras nunca estão a sós, as vírgulas das janelas balouçam no hálito delas!
47.Claro que te sei quando entranhado lingan sorvo delfim
te hospedas eternamente no secreto de mim!
48.Dobram os cravos de púrpura evapora a rosa aos meus sentidos.
49.Uma fina pena sobrevoou na contra-luz, alguém agora deletou um beijo ou exalou-se um poema!
50. Tua alma minha ressonância no infinito presente além dos nossos hemisférios da razão deste verbo em cósmica conjugação.
51. Quando se diz de caminhos a palavra é rebanho, conjuga ovelhas e fermenta maçãs verdes!
52. Suavemente te escrevo com meus lábios nessas páginas secretas do meu corpo, oh guardião de mim!
53.O amor é fome desse submerso jardim,um vinho ácido de ancestralidades, na boca cúmplice da alma.
54.O grande rio convida à meditação.
55.Meu solitário vôo desprende-se de mim, doem os meus lírios de sal.
56. Doem meus comboios de girassóis de sangue.
57. Você é o meu verso mais puro.
58 Sou esse alfabeto indecifrável da minha agonia,
fragmentos soprados que entalham minha sombra fria sobre a pedra.
59. Essa palavra, grito do meu fóssil na epiderme do pensamento.
60.As gaivotas revoam sobre os mares, reescrevem-se destinos.
61. Choro você no verso líquido dessa tristeza.
62. Uma pedra não é uma pedra, é o fio da minha gravidade?
63. Dói o teclado que ouço, meu olhar geométrico se perde na mancha abstrata, onde assino?
64.Por que devoras com tua língua insana,
por que fias como tua o lume destas notívagas asas?
O sal que aqui arde fundo é moenda desta casa!
65. A medida que usas para teus julgamentos é a mesma que primeiro te mede e te contém no invólucro dos ventos, desde o fóssil do umbigo de teu tempo.
66. Em que margem deixou ontem as tuas vestes?
67. Em que bocas se guardam os teus desejos, os teus dentes?
68. Desde sempre se moldam os golpes da adaga.
69. Por entre esses labirintos bifurcados, esses meus passos famintos, tatuados, gritando você.
70. Eu disse de outros caminhos do jardim, eu disse que da lavra do arco-íris sangram furnas de polens.
71. Eu disse que há guardado no caminho do agora,
uma eternidade de pássaros, para em te bebendo no aguadouro de sal, te cinzelar dentro do cal da retina dos meus olhos, indefinidamente...
Tag der Veröffentlichung: 09.04.2011
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Widmung:
Aos meus pais
Edgard e Hilda
em amada memória