a dois graus
1996 | 2013
É um querer estar
Sempre e tanto, o tempo todo
Preso no filme de nós dois
É um estar repleto
um distraído riso bonito
Que se figura em abraço aconchegante
Um abraço como laços
Carregados de fotografias
Alinhadas em cenas de chuva fina
É uma respiração em rodamoinho
Miscelâneas, tramas de olhares
Em desenhos marcados no ar
É um pouco de sol que es vai
Pincelado com aquarela na brisa da tarde
Para uma noite que vem entrelaçar nossos corpos
Somos pulsos ininterruptos
Lascivos transgressores
A dançar nosso tango libertino
É um desejo latente
Que pulsa amplificado
Pelos poros insaciáveis
Um estrondo em silêncio
Quando olhos ávidos
Se encontram incandescentes em primeiro plano
É um sentir-se inebriado
Que arrepia a pele
Água na boca de mais e mais ardor
É um estar juntos
Feito que somos um
E ainda que distantes um mesmo pensamento
com um guarda-chuva
danço na estrada sinuosa de meus pés nus
me banho em chuvas de medo águas de comprimidos
e se amplia amplifica da mente distorcido
em retalhos de sentidos inventados
portas sem chaves, chaves de molho
e não adianta os uivos do seu silêncio,
eu não vou à festa para ver meus sonhos
dançarem boleros de atrocidades
dei muitos nós em cordas cortadas
para não correr mais atrás de meus passos
apressados alquebrantes de sede
quero asas nos olhos e dispenso o brilho reclamado
e de uma britadeira nos ouvidos faço meu guia
porque mãos de fumaça não podem acariciar
Em dias como este,
de completa ausência [não sentida] de sol,
rabisco sorrisos soltos em teus lábios,
me perco nos caminhos
dos teus pequenos olhos brincantes
e aninho-me em teu colo quente
para encontrar-me eu a ti em teus beijos nossos
ruídos roucos
uivos lascivos
risos convulsos
numa fotografia em branco e preto
numa fotografia em transe
risos lascivossss
uivos rrrroucos
ruídos convvvvulsos
Como ainda não reparastes
que não há mistério algum nos olhos meus?
Que este jeito que te pareço:
resenha esquisita, sombra esparsa
em ruas margeadas de silêncios –
não são meus traços, ainda que me pinte assim?
Repara que não posso despir-me de minhas aquarelas,
Este sim, mistério de tua contemplação
E são por suas veredas cores pinceladas
Que chego mais perto de ti, que te olho e que te quero
No inadiável sabor do sal
Saliva alva que enche a boca
Nos meus olhos seus
Pêlos poros puro arrepio
Do encontro entrelaços lábios laicos
Havia aqueles dias de completa ausência
De canções indecifráveis
De seu olhar que me comunicava
Formas improváveis, segredos rotos
Silêncios demais...
E eu sentia em mim
Impressões de contornos
No meio-fio de suas beiradas
quando o sol se põe
e o mundo fica em silêncio, eu ouço as estrelas,
e como se elas tivessem uma canção
que só fossem de conhecimento delas
e a noite, como uma orquestra
a propagar sua música pelo cosmo
aqueceria meu espírito agitado
com o som de sua luz
e deitado em seu colo
me faria sonhar e esquecer
que delas só restam
o acalanto de seu brilho...
não sei, mas pressinto que essa seja
a minha maneira de estarmos juntos.
vítreos olhares que se aproximam
na confusão das respirações
que se alinham desejosas
e multiplicam-se em chamas
em frações de segundos.
no primeiro desencontro
as pálpebras deslizam devagar
para pousarem delicadas
no poente austral;
no mesmo compasso
os lábios cálidos consomem o mágico ritual:
revelando as línguas ardentes
que no terceiro toque,
tropeçam de leve nos dentes,
para depois se tocarem íntimas
numa cumplicidade mítica,
como a lua ao mar,
num prelúdio sedutor da aurora boreal.
a realidade temporal em cristais de gelo
suspira um mar de sonhos flutuantes
e os olhos oclusos saciam as primorosas imagens
e a quintessência do beijo apaixonante
transcende as mil faces orgíacas da carne.
hoje pela manhã...
por alguns instantes pensei em ti
como ainda não havia me dado conta
pude sentir seu cheiro, seu perfume...
e sabia a sensação que arrepia a pele
como se eu adivinhasse que era mesmo seu
e reparei que um sorriso
começava a tomar forma em minha boca...
e foi aí então que tive a certeza...
o meu dia seria bom....
as vezes queremos o mundo...
um mundo que não é muito grande
só o suficiente para lhe confortar
e dizer que te quer junto
um mundo pequeno por fora
mas que na expressão de sua alma
é amplidão com sua presença
com seu sorriso com seus beijos
mas este mundo minúsculo
não se pode ver a olho nu
ele é sentido em palavras
no aconchego do ouvido
ou no deslizar de dedos ágeis
a procura de mais e mais
atar nessas palavras a distância dos corpos
PS. Atenção!
Essas palavras acabaram de nascer,
cuidado que elas podem chorar.
Não raro,
me transbordo do mundo
e a única pulsação
é não dar a mínima
para as coisas que me rodeiam
sentir-se um ímã negativo
anarquizar os olhos
e mergulhar no céu
sem fundo sem rumo
uma noite calma...
morna como nossos espíritos em férias...
e lá fora uma chuvinha convida para dançar...
é verão!
e tento buscar no meu baú de espantos....
quando foi a última vez
que tomei banho de chuva...
...
ja faz tanto tempo assim?
eu me recordo, como se fosse hoje
o nosso banho de chuva...
que ainda não tomamos...
Uma dor comprimida,
Com pressa
Disfarçada de insônia
Inquietações em gestos dormentes
Como imagens de um filme fantástico
Rodando em minha cabeça,
Assim contemplo meu pessimismo
Diante de uma solução improvável
Para este mundo doente,
Que me adoece
Hoje, meu corpo pedia sol como quem clama um dia claro
E meus olhos incendiados não queriam ver Munch,
Como chuva acompanhando meus passos.
Eu vislumbrava qualquer coisa parecida
com o aconchego de um abraço
Acordei hoje, me sentindo uma estrada desconhecida
E, portanto, não sei ainda onde terei uma curva
Ou uma bifurcação que me traga a dúvida
E muito menos um retorno, que me traga de volta
Não, minha mente é pura sensação de arrepio
Diante da nova condição
Só me resta debruçar na janela
E curtir a paisagem
Enquanto esta estrada me leva
Ando em mim mesmo
sobre trilhos incertos
e me fragmento à medida
que avança no túnel
e ao primeiro rascunho de luz
já não serei mais eu:
cópias e cópias de intenções
vilas fantasmas em sombras
vestígios de medo
encarcerados em teias de coragem
Se o mundo inteiro
Por um instante mínimo
Ficasse suspenso
Num tempo primordial
Como desenho animado em stop motion
Nessa nova condição de não ser:
Ânimo translúcido sem rédeas
Faria do não motivo de existir
Uma festa grandiosa:
Irresponsavelmente louca
Vagaria pelas ruas vazias
Num memorável cortejo
Por este mundo sem fim
Que já não pareceria tão grande
Nem tão sério e adoecido
Esta distância subjetiva
Que insiste em nos medir
Que traça rotas em mapas de circunstâncias
E joga em nossas mãos destinos enlatados
Que consumimos na sessão nostalgia
Quando caímos na cilada virtual da longitude
Vivemos em permanente estado de sitio
Por este mal facultativamente necessário
E ainda queremos overdose e orgasmo
Nós somos vitimas desarmadas?
Ou a distância é apenas um traje de gala?
Sou de passagem por caminhos virgens
Desnudando meus olhos a cada ausência de luz
Estou paciente de metáforas domésticas
Carecendo clarear meus dentros, meus nuncas
Nesses tempos de completa renúncia,
um passado que se levanta de entulhos cristalizados
vem esgueirando-se nas sombras...
te seduz, te assalta, te prova...
e volta a enterrar-se nos escombros
e deixa-te na cama de mandacarus
enrolado num manto de urtigas.
Amparado pela luz vacilante
De uma vela em coma
Vasculho nos escombros
Dessa noite incandescente
Meus olhos tolos
Que se precipitaram no abismo
De uma esperança paralítica
De se suicidar na fagulha de um beijo
De enclausurar-se
No emaranhado vertiginoso de um abraço
Encontro-os, enfim
Empoeirados e surdos
Esta parte arredia de mim
Que apanho com uma gravidade
Suficiente e anti-cotidiana
Para depositá-la na desolação
Da minha carne (dissoluta).
Tudo, de repente
se acumulou
num frenesi
de incoerências,
estourou-se em outra
tudo era motivo
para esbravejar o mundo
queria chorar!
mas todas as injustiças
que sofria naquele momento
só ardiam, só queimavam
e não se sabia
mais dona de si
Olho-me aos meus pés
Sem mim, incalcado,
Esquivo em trote...
Hei, um girassol
Piscou seus olhos dourados...
–– foi numa fração de segundo...
No enleio raro de um raio de luz...
Apenas...
...esquece...
Deixo-me e parto,
Arrastando atrás de mim, as cordas do meu olhar,
Desamarradas do que nunca senti como pulsação.
Escalo-me na precipitação
Do volátil abismo meu
Que ao engolir-me a mim
Guela abaixo
Embalsama meu fôlego
Esfacelando meus nuncas, meus dentros
E num estupor momentâneo
Tento alçar vôo e planar
Sobre o vale de minhas impercepções,
Vazias de mim, incontavelmente repletas
E não me dou conta mais do que sou
Ao que sinto em mim...
Hei, repara só...
O girassol continua a piscar seus olhos...
deixa pra lá, são apenas raios de luz...
no seu breve espantar de todas as manhãs
Em um só movimento,
saltou do sonho
para o tapete listrado
ao lado da cama.
Notou que,
ao redor de sua cabeça,
pequenas árvores
cresciam vertiginosamente
e frutificavam suas vontades
em pequenos cachos
que logo maduravam
em impulsos incontroláveis.
Quando o dia regalou-se de luz,
iniciou-se a contagem regressiva
de suas últimas horas de vida.
A semente,
agora um broto miúdo,
de um verde reluzente,
mal sabia que, no próximo instante,
seria alimento
para uma pequena boca faminta.
Estou sempre em permanente ensaio,
em contínuo processo...
Desconstruindo versos, gestos,
desdizendo falas,
olvidando o que escuto.
Estou ilicitamente
em estado de rascunho.
As palavras pedem mais economia
carecem de mais brevidade
as vezes há desperdiço demais
em longas caminhadas
Assim,
desarmado de contratos
Ínfimos enquanto dure
Não me restou outra saída
Se não,
Acalmar minhas vontades,
Descalçar minhas indiferenças
Para desbravar outros olhares
Para desencontrar-me de
caminhos pilhados
E. Barba dizia que deveríamos estar sempre "em busca de como transmitir o sentido da
revolta sem ser esmagado"
e eu guardo,
aqui do lado de cá
silenciosamente... não,
religiosamente,
fardos de revoltas comprimidas...
Bálsamo pulsante em qual euforia
De teias de labirintos implícitos vão(s)
Se perder os teus anseios enluarados?
Em que noite nua brilha a luz dos teus olhos,
Desfeita em fagulhas de diamantes?
Em qual impossível oceano
Deságua seu íntimo (que)
Encerra o laço de sua alma,
Que dilui o calor esfoliante
De seus hábeis lábios diletantes?
Que vaga bruma
Enlaça-te os olhos espectantes
E o coração em chamas que ama e ao amar
Se insana no estrangeiro flutuar
De seu enleio tácito de amante?
Em que sinuosas cordas de vento
Que rodopiam cintilantes num malabarismo mágico
Equilibras teu equilíbrio no ar?
Em que vôo rasante perdestes o floreio de tuas asas,
O beija-flor de sua graça, em recôncavo arfante?
Diga-me, lírio diáfano
Em que sonho de labirintos impossíveis
Te enclausurastes...?
Em que céu ensandecido, vagam
Teus pensamentos acorrentados em névoa?
Em que abismos eternos...
Preferistes ser Alice... sem asas?
Em que praia absurda
Fostes construir castelos de areia?
Mas antes...
Repara-te...
Olha-te um pouco...
Numa profundidade
Que ainda não ousastes olhar...
Não, não prenda a respiração...
Nem desvie o olhar...
Não vai demorar muito...
Repara...
Como sua luz te espera...
Para resplandecer...
Irradiar...
Como mil sóis num dia de festa...
Repara mais...
Vê?
No prisma do teu reflexo....
Como algumas poucas
(raras e perenes) estrelas cintilantes
Te estendem as mãos, convidando-te para a dança...?
Tag der Veröffentlichung: 29.05.2014
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